Entrevista Exclusiva: James McSill conversa com Hina
James McSill: Obrigado, Hina, por aceitar compartilhar sua história conosco. Pode começar me contando como você se sentiu na primeira noite no clube?
Hina: Foi um terror absoluto. Logo ao entrar, percebi que tinha cometido o maior erro da minha vida. As paredes eram escuras, úmidas, impregnadas por um cheiro horrível de tabaco e álcool. Mas o pior eram os sussurros—baixos, venenosos. Você sentia no ar a conspiração, os olhos seguindo cada movimento seu, esperando que você cometesse um erro.
James McSill: E como foi seu primeiro contato com a Yakuza, exatamente?
Hina: "James, você sabe... quando me vi na rua naquela noite, o cheiro da cidade era diferente. O ar estava denso, pesado, e eu andava sem saber para onde ir. Não era uma sensação de desorientação, mas uma necessidade urgente de escapar. Mas fugir para onde, né? Eu estava buscando algo, algo para preencher o vazio que eu carregava, algo que eu nem sabia que precisava. Quando aquele homem apareceu, eu sabia que algo estava prestes a mudar. Ele estava encostado em uma parede, com aquele sorriso enigmático, como se soubesse exatamente quem eu era, como se me conhecesse melhor do que eu mesma. Ele me olhou, de uma maneira que me fez sentir que eu era a próxima jogada no tabuleiro. Ele disse algo simples, mas a maneira como falou... ‘Você é nova por aqui, não é?’... Não eram palavras para se ouvir, James. Era uma sentença. E, sem saber direito como, eu disse que sim. Aceitei, sem sequer saber o que estava aceitando. Eu simplesmente disse sim. Talvez seja isso que acontece quando você está perdido, você acaba aceitando qualquer coisa que pareça ser uma saída. Mas o pior foi quando eu entrei no clube pela primeira vez, e o verdadeiro chefe, aquele homem com a cicatriz, me olhou como se eu fosse nada. Eu vi a cicatriz dele, cortando o rosto de forma tão… definitiva. Era como se aquela marca fosse tudo o que ele fosse. Como se ele fosse definido por aquela cicatriz, e ninguém que entrasse naquele lugar fosse digno de mais que isso. Ele me olhou, e com a frieza de quem já viu de tudo, disse: ‘Agora você pertence a nós.’ Naquele momento, James, eu senti que tinha vendido minha alma. Senti que qualquer chance de voltar atrás tinha ido embora. A escolha já estava feita, e eu já não tinha mais controle. O medo era tão grande, tão paralisante... eu não conseguia me mover. Tudo o que eu queria naquele momento era sumir, sair daquele lugar, desaparecer. Mas o que eu sabia no fundo era que, mesmo que tentasse, não teria mais para onde ir. Eu já estava dentro. Eu pertencia a eles. Eu não sabia como lidar com aquilo. O medo não vinha só do que ele era capaz de fazer, mas do que esse lugar representava. Cada movimento que eu fazia parecia estar sendo vigiado. Cada palavra que eu dizia parecia ser um teste, e cada erro, uma sentença de morte. Aquele clube não era apenas um local físico, era uma prisão emocional, uma cela mental, e eu tinha me trancado nela. Eu estava em choque, mas, ao mesmo tempo, havia algo lá dentro que me dizia que eu não podia demonstrar fraqueza. Eu tinha que ser forte, mesmo quando tudo em mim gritava para que eu fugisse. Mas, James, eu sabia que não havia mais fuga. Eu tinha escolhido um caminho e agora, a única coisa que me restava era tentar sobreviver a ele.”
Hina: “Eu me lembro de me olhar no espelho logo depois que ele falou aquelas palavras. Me vi, e não me reconheci. A mulher que entrou naquele clube era uma estranha para mim agora. Ela tinha sonhos, ela queria ser algo. Ela não tinha medo. Mas a mulher que estava olhando para o espelho agora… ela não sabia mais o que fazer. Não sabia mais o que queria. E o que mais me aterrorizava era que, no fundo, eu sabia que não podia voltar para a pessoa que eu era antes. Ela tinha morrido ali, naquele momento. Eu já tinha me perdido, James. Eu tinha aceitado que minha alma havia sido tomada, e agora tudo o que eu podia fazer era tentar sobreviver. A cada dia que passava, o medo crescia. Mas a dor de perceber que não havia mais controle... essa dor foi a que me marcou mais profundamente. Mas, por mais que o medo me paralisasse, algo em mim não me deixou desistir. Havia algo em meu interior que me fez continuar. Algo que me dizia que, se eu sobrevivesse a essa noite, poderia sobreviver a qualquer coisa. Então, eu permaneci. Porque, no fundo, eu sabia que não tinha mais volta. Eu já havia feito a escolha. E, mesmo que estivesse sendo engolida por aquele mundo, eu precisava me manter firme, mesmo que fosse apenas para provar para mim mesma que ainda podia respirar. Porque, no final das contas, a única coisa que nos resta em momentos como esse, James, é a escolha de seguir em frente, mesmo quando tudo ao seu redor te empurra para trás.”
James McSill: Você mencionou que havia outros brasileiros ali. Como era a relação entre vocês?
Hina: Era uma mistura de solidariedade e desconfiança. Alguns tentavam ajudar, davam dicas de como evitar problemas. Mas outros eram frios, quase cruéis, já muito machucados pela vida. Um deles, Lucas, tentou me proteger no início. Ele me avisou sobre clientes especialmente violentos, me ensinou a observar os sinais de perigo.
James McSill: Pode contar sobre um momento especialmente difícil?
Hina: "Aquela noite... foi como se o mundo inteiro tivesse decidido me destruir de uma vez só. Eu ainda me lembro do cheiro da fumaça de cigarro misturado com o perfume barato que ele usava. O som dos seus passos, pesados, ecoando no meu peito, como uma ameaça iminente. Ele estava ali, no clube, com aquele olhar que fazia você sentir que não era nada. Como se eu fosse um objeto. Ele me observava com aqueles olhos frios, calculistas, que diziam mais do que mil palavras. O poder que ele exalava não estava só em sua aparência, mas na forma como ele fazia você se sentir pequena, insignificante, como se a sua vida não valesse nada. Eu me lembro de como ele começou a me falar. A voz dele era suave, mas cada palavra era como um golpe. ‘Você vai fazer o que eu te disser, e vai gostar.’ Ele disse, com um sorriso perverso no rosto. Mas não era um sorriso amigável, James, era um sorriso de quem já viu o pior da vida e estava se divertindo com isso. No começo, tentei resistir, tentei manter a dignidade, mas ele percebeu. Ele sempre percebe tudo. E, então, começou a humilhação. Um pedido depois do outro, mais degradante que o anterior, cada um empurrando meus limites mais e mais. Eu queria gritar, queria correr para longe, mas as palavras não saíam da minha boca. Eu estava paralisada, perdida em um lugar onde não tinha mais controle sobre nada. O pior de tudo foi quando ele me forçou a... bem, a me submeter de uma maneira que eu nunca imaginei. As palavras que ele usava... eram sujas, grosseiras. Ele me fez sentir como se fosse nada, como se não fosse um ser humano, mas apenas uma ferramenta para seu prazer. Ele me destruiu ali, James. E a parte mais difícil foi que, no fundo, eu sabia que tudo o que ele estava fazendo era apenas um reflexo do que eu me tornei. Uma coisa que os outros podiam usar e jogar fora quando quisessem. Ele me humilhou, me esmagou, e o pior foi que eu não podia fazer nada a não ser seguir as ordens, porque o medo de perder tudo o que tinha conquistado — ou o que achava que tinha conquistado — me paralisava. Quando finalmente ele se foi, eu fiquei ali, sozinha, deitada no chão sujo do quarto, com o corpo marcado por ele. Eu estava arrasada, James, mais do que qualquer coisa que eu já tivesse vivido. Eu tentei me levantar, mas não conseguia. O meu próprio reflexo no espelho parecia um monstro, uma estranha que eu mal reconhecia. O que sobrou de mim não era mais uma mulher com esperança, com vontade de ser algo. O que restou de mim foi uma sombra, uma casca vazia. Eu me arrastei até o banheiro imundo, onde a água quente não conseguia tirar a sensação de sujeira, de desespero, de perda. Lá, no banheiro, sozinha, eu chorei. Chorei até que minha dor se misturasse com o som do ralo levando toda a água suja embora. E, naquele momento, James, eu pensei que não podia mais fazer isso. Não mais. Eu pensei em simplesmente desaparecer, em sumir desse mundo. Parecia que não havia mais razão para continuar. Cada pedacinho da minha autoestima estava quebrado, esmagado sob os pés dele. Ele havia conseguido destruir o pouco de mim que ainda tinha orgulho. Mas, naquela noite, algo me fez levantar. Algo que eu não consigo descrever, mas estava lá, dentro de mim. Um fio de esperança... talvez até vergonha de mim mesma. Porque, por mais que eu quisesse fugir, eu sabia que, se fizesse isso, seria o fim. O fim de quem eu era antes, mas também o fim de qualquer chance de me reconstruir. Então, continuei, mas naquela noite, pela primeira vez, eu não era mais uma mulher. Eu era uma sombra.”
James McSill: O que te fez resistir naquele momento?
Hina: Algo dentro de mim se recusou a aceitar aquela derrota. Eu estava completamente quebrado, mas pensei: “Se eu sobrevivi essa noite, posso sobreviver a qualquer coisa.” Usei aquele sofrimento como combustível. Prometi a mim mesmo que encontraria uma saída, custasse o que custasse.
James McSill: Como foi a transição de alguém que sofria abuso para alguém que conseguiu tomar o controle?
Hina: Foi lenta e muito dolorosa. Eu observava tudo obsessivamente. Cada detalhe importava—quem comandava, quem tinha dívidas, quem traía quem. Comecei a entender o funcionamento daquele mundo obscuro. Fiz contatos discretos, sempre cauteloso para não despertar suspeitas. Quando surgiu a oportunidade de comprar um clube, negociei ferozmente, usando tudo que aprendi nas noites de medo.
James McSill: Como você descreve o sentimento ao finalmente tomar controle?
Hina: Libertador. Pela primeira vez em anos, senti que tinha recuperado uma parte de mim mesmo. Não era só sobre dinheiro ou poder, mas sobre autonomia. Eu finalmente comandava minha própria vida. Mas junto com a vitória veio também a tristeza profunda pelo que precisei passar. As cicatrizes internas são profundas, James.
James McSill: Você ainda sente medo hoje?
Hina: Sempre. O medo nunca desaparece completamente. Mas aprendi a usá-lo. Ele me mantém alerta, afiado. Hoje, quando ando pelos clubes que agora são meus, sinto orgulho, mas também o peso das memórias. Cada canto daqueles lugares guarda um pedaço da minha história, do meu sofrimento e também da minha vitória.
James McSill: E o que você diria para alguém que está numa situação semelhante à que você viveu?
Hina: Que resista. Que entenda que o inferno é passageiro. Cada dor, cada humilhação, pode ser transformada em força. E, acima de tudo, que nunca deixe de acreditar que há uma saída, mesmo que pareça impossível. O segredo está em nunca desistir, porque um dia você vai olhar para trás e perceber que não apenas sobreviveu—você conquistou.
James McSill: Muito obrigado, Hina, por essa conversa profunda e honesta. Sua história certamente inspirará muitos.
Hina: Obrigado você, James, por permitir que minha voz seja ouvida.
James McSill: Obrigado, Hina, por aceitar compartilhar sua história comigo. Pode começar me contando como você se sentiu na primeira noite no clube?
Hina: Eu entrei no clube com um nó no estômago, como se o ar estivesse mais denso ali, mais difícil de respirar. Era como se os espaços, as paredes e o chão estivessem comprimindo tudo em torno de mim. As luzes piscavam de forma errática, quase como se o ambiente quisesse te engolir aos poucos, te desorientar. A primeira coisa que me atingiu foi o cheiro—um odor pesado, misturado de tabaco, suor, álcool e algo... mais amargo. Como se o lugar tivesse sido feito para acumular a sujeira do mundo. Minhas mãos estavam suadas, e eu me agarrei à bolsa com força, tentando manter algum tipo de controle, mas tudo ao meu redor me fazia sentir tão pequena.
Eu andei devagar pelo corredor escuro, ouvindo o som dos meus passos ecoando como um aviso, e, à medida que me aproximava da sala principal, os sussurros começaram. Eles estavam ali, baixinho, mas afiados, cortando o ar, não querendo que eu os ouvisse, mas eu sabia que estavam falando sobre mim. A ansiedade era quase tangível. Olhei para os lados e senti os olhos de todos me observando, me analisando. Cada passo que eu dava parecia ecoar mais alto, como se estivesse desrespeitando um silêncio mortal. O pior era o olhar de cada um... Não era só curiosidade, era um tipo de malícia velada, esperando algo de mim, esperando um erro, qualquer erro.
No fundo da sala, uma música estranha e insuportável começava a tocar, mas, mesmo com o som, eu podia ouvir as conversas sussurradas. Eu estava sendo observada, mas não sabia de quem. Eu vi um homem de terno preto, com uma cicatriz grande no rosto, alguém que emanava poder, mas de uma forma... suja. Ele não sorriu quando me viu, apenas me encarou por um longo momento, como se estivesse tentando me medir, como se eu fosse um pedaço de carne sendo analisado. Eu engoli em seco, a sensação de ser uma presa era avassaladora. E a única coisa que me restava era tentar não parecer fraca. Não posso fraquejar agora, pensei. Mas, a cada segundo, a pressão parecia aumentar, e eu senti que a qualquer momento algo iria estourar.
James McSill: E como foi seu primeiro contato com a Yakuza, exatamente?
Hina: Quando o homem me abordou na rua, eu mal sabia onde estava me metendo. Ele se aproximou com um sorriso dissimulado, como se estivesse fazendo um favor, mas seus olhos, James... os olhos eram vazios, frios. Ele me disse que tinha uma oferta para mim, que eu teria um futuro se aceitasse. Naquele momento, minha mente estava girando, e eu sabia que aquela oferta era tudo o que eu poderia conseguir naquele momento. As palavras saíram da minha boca sem pensar, e logo depois, o peso da decisão me esmagou. Não havia mais volta. Quando ele me levou ao clube, o ar ficou ainda mais denso. Eu estava ali, já envolvida, sem saber o que fazer ou para onde correr.
O verdadeiro chefe da Yakuza estava na parte de trás, observando a cena com um olhar de desdém. Ele estava sentado, imóvel, mas seu olhar percorria cada parte de mim como uma lâmina afiada. Ele me disse que agora eu era dele, que não tinha escolha, que eu já pertencia àquele mundo. O modo como ele falou, com tanta frieza, me fez sentir como se minha alma tivesse sido arrancada. A sensação de perda foi instantânea e profunda. Eu queria gritar, me jogar no chão, sair correndo. Mas, ao invés disso, fiquei parada, como se as palavras dele tivessem me paralisado. Eu sou deles agora, pensei. Eu havia vendido minha alma sem nem perceber. O medo me dominava, um medo que me fazia sentir como se meu coração estivesse congelado, como se o meu corpo não fosse mais meu.
James McSill: Você mencionou que havia outros brasileiros ali. Como era a relação entre vocês?
Hina: No começo, a relação entre nós era... complicada. Havia uma barreira invisível que nos separava, uma linha tênue entre o que era solidariedade e o que era medo. Alguns brasileiros estavam ali há muito tempo, com a alma já partida, já conformados com a situação. Eles me viam como uma novata, alguém frágil que ainda tinha esperança. No entanto, nem todos me olhavam com desdém. Alguns tentaram me ajudar. Eu lembro do Lucas... Ele se aproximou logo no começo. Ele tinha um jeito rígido, quase desconfiado, mas havia algo em seus olhos que me dizia que ele queria me proteger. Ele me falou sobre os tipos de clientes que eu deveria evitar, me deu dicas sobre como sobreviver ali sem ser esmagada pela pressão.
Mas havia também outros que eram... cruéis. O olhar deles era gelado, como se o sofrimento fosse algo natural, algo que todos deveriam passar. Eles eram como fantasmas, apenas respirando, sem emoção, sem vida. Às vezes, eu os via dando risadas, mas não era uma risada verdadeira. Era uma risada vazia, como se a dor fosse tão comum para eles que já não havia mais espaço para a compaixão. A desconfiança estava sempre no ar, sempre com a promessa de traição à espreita. E isso me consumia. Me consumia porque eu queria acreditar que havia algo bom ali, mas, ao mesmo tempo, sabia que a bondade era algo raro, quase inexistente naquele mundo.
James McSill: Pode contar sobre um momento especialmente difícil?
Hina: Há uma noite que nunca vou esquecer, James. Um cliente muito poderoso, um homem da Yakuza, um verdadeiro monstro. Ele chegou com uma aura de autoridade, mas seu olhar... seu olhar era mais penetrante que qualquer faca. Ele me levou para uma sala privada, onde o ar estava ainda mais sufocante, e começou a me humilhar de uma maneira que me fez perder qualquer senso de dignidade. Ele me fez fazer coisas que, no fundo, me quebraram de uma maneira que eu nunca imaginei ser possível. Ele me fez sentir menor que a terra sob os seus pés.
Cada palavra dele era uma lâmina, cada comando um golpe. Eu me sentia como uma marionete, sem controle sobre o que estava acontecendo, só reagindo ao que ele me impunha. Eu me vi sendo tratada como um objeto, como um nada, e a humilhação foi tão profunda que eu só queria desaparecer. Quando ele finalmente me liberou, eu me arrastei até o banheiro. O banheiro era um reflexo de toda a podridão do lugar—sujo, fétido, imundo. Eu me olhei no espelho, mas não me reconheci. Eu estava destruída por dentro e por fora. As lágrimas não cessavam. Eu pensei que não havia mais forças dentro de mim. Foi a primeira vez que eu realmente pensei em desistir, em desaparecer.
Mas eu não pude. Algo dentro de mim, algo que eu não podia entender na hora, me fez levantar. Eu me enxuguei e prometi para mim mesma: Eu não vou deixar esse mundo me quebrar. Eu vou sair daqui mais forte do que nunca. Eu não sabia como ainda, mas sabia que não poderia desistir.
James McSill: Hina, você descreveu um momento de grande sofrimento. O que aconteceu depois dessa noite tão difícil? Como a situação foi se agravando para você?
Hina: Após aquela noite, o peso de tudo só aumentou. Cada dia parecia ser uma batalha em si. Eu estava me afundando mais e mais naquele mundo, onde a dor e o medo eram parte do cotidiano, onde eu sentia que, a qualquer momento, poderia ser consumida. Não havia descanso, James. Eu estava presa naquele pesadelo, sem saber o que fazer.
Uma noite, depois daquele episódio humilhante, algo aconteceu que mudou ainda mais minha percepção sobre o que estava vivendo. O clube estava especialmente cheio, e as luzes estavam piscando mais intensamente, quase como se estivessem alertando para o caos que viria. Eu estava no bar, servindo bebidas, quando um novo cliente chegou. Ele era diferente. Não era como os outros; havia uma aura de perigo ao seu redor, algo que me fez arrepiar da cabeça aos pés.
Ele era alto, com um terno escuro, com uma expressão gelada e olhos vazios. Ele não parecia interessado nas mulheres ao redor, mas, quando seus olhos encontraram os meus, algo estranho aconteceu. Ele me observou por um longo tempo, sem sorrir, sem desviar o olhar, como se estivesse me estudando. Senti um calafrio correr pela minha espinha. Eu sabia que algo estava errado. O medo apertou meu estômago, mas eu não podia mostrar fraqueza. Como sempre, me forcei a continuar servindo, tentando parecer que nada estava acontecendo, mas a tensão no ar era palpável.
Em um movimento rápido, ele me puxou pela mão e me arrastou para uma sala nos fundos, onde a música abafava o som do resto do clube. Era uma sala escura, sem janelas. Ele me pressionou contra a parede, seu hálito pesado de álcool e tabaco. Ele sussurrou: "Você acha que está segura aqui? Ninguém está seguro." As palavras dele me atingiram como um soco. Eu não sabia se ele estava falando metaforicamente ou se havia algo mais por trás de suas palavras, mas o medo era tão grande que meu corpo inteiro tremia.
Foi então que ele me contou sobre um segredo. Uma história que, se revelada, destruiria minha vida de vez. Ele estava ligado a algo muito maior, algo dentro da Yakuza, algo que ninguém fora do círculo íntimo deveria saber. Eu estava em perigo, e ele deixou claro que, se eu não colaborasse, ele faria de tudo para me fazer pagar. Ele me ameaçou de uma forma tão silenciosa e letal que, ao sair daquela sala, eu mal conseguia respirar. Eu sabia que estava sendo vigiada, que qualquer movimento em falso poderia ser o fim para mim.
James McSill: Isso é aterrador, Hina. E o que você fez a partir daí? Como lidou com a ameaça que estava sobre você?
Hina: O que eu podia fazer, James? Eu estava entre a espada e a parede, e os perigos pareciam estar por todo lado. O medo estava se tornando uma segunda pele, e eu sabia que não poderia viver assim para sempre. Mas também sabia que qualquer movimento em falso poderia ser fatal. Eu comecei a observar com mais atenção, mais do que nunca. Tudo ao meu redor era uma pista, um sinal de que a qualquer momento algo poderia desmoronar.
Eu passei a ouvir mais atentamente as conversas entre os homens da Yakuza. Cada palavra, cada gesto, até os olhares que trocavam uns com os outros. Eu estava começando a perceber as falhas no sistema. Mas havia algo mais complicado acontecendo—algo que me envolvia ainda mais. Um novo grupo estava chegando ao clube, e não eram pessoas comuns. Eles tinham um poder silencioso, e a tensão entre eles e a Yakuza era palpável. Eu vi como os membros da Yakuza tratavam esses novos homens—com respeito, com um medo disfarçado. Não era como o tratamento normal que eles davam aos outros. Algo estava prestes a acontecer, e eu podia sentir o peso daquilo no ar. A pergunta era: Quem sairia vivo dessa vez?
Numa dessas noites, eu vi o Lucas se aproximando de um dos novos homens, aquele que parecia ser o líder. Eles conversaram rapidamente, e, quando se afastaram, vi o Lucas olhando para mim com um olhar que eu nunca tinha visto antes. Ele estava pálido, quase assustado. Ele veio até mim, e, com a voz baixa, me avisou: "Hina, você precisa sair disso. Eles vão te usar até você não ter mais nada. Foge enquanto pode."
Eu fiquei paralisada. As palavras dele ecoaram na minha mente. Ele estava avisando porque sabia que eu estava em perigo, mas eu não podia simplesmente sair dali. Onde eu iria? O que aconteceria com todos que eu deixei para trás? Eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma, mas sair... sair significava mais do que só escapar. Significava deixar para trás tudo o que eu construí até então, todos os meus contatos, todas as informações que eu tinha reunido. Mas também significava minha sobrevivência.
James McSill: Isso deve ter sido uma decisão extremamente difícil. Você pensou em fugir naquele momento?
Hina: Fugi, James. Mas não da maneira que você está pensando. Eu não pude simplesmente pegar minhas coisas e sair. Eu precisava de mais. Eu precisava entender o que estava acontecendo por trás das cortinas. Então, fiz o que eu sabia fazer melhor. Observei. Espiei. Me infiltrei ainda mais fundo.
As tensões estavam aumentando. A cada novo dia, a sensação de que algo catastrófico estava prestes a acontecer aumentava. Eu sabia que a Yakuza estava perdendo o controle, e os novos homens no clube eram uma ameaça ainda maior. Não demorou muito para que começassem a aparecer mortes misteriosas. Algumas pessoas desapareceram, e eu vi o que aconteceu com elas—eu vi os corpos, escondidos, como se nunca tivessem existido. Uma noite, eu estava no banheiro, quando ouvi uma conversa de dois homens da Yakuza. Um deles estava preocupado com o fato de que o novo líder estava ganhando força, que eles estavam perdendo controle sobre os negócios.
Foi quando tudo fez sentido para mim. Eu estava em um jogo de poder muito maior, muito mais perigoso. E se eu quisesse sair, eu teria que ser mais astuta, mais fria do que jamais fui.
James McSill: Isso foi um ponto de virada, não foi? Você teve que se tornar uma jogadora no jogo deles, um jogo de vida ou morte.
Hina: Exatamente. E tudo que eu sabia até aquele momento—toda a dor, toda a humilhação—começou a virar uma força. Eu já não era mais a mesma pessoa que entrou naquele clube pela primeira vez. Eu estava me tornando alguém nova, mas uma versão mais fria, mais calculista. Para sobreviver naquele mundo, eu não podia ser mais uma vítima. Eu tinha que ser alguém que controlava seu próprio destino, alguém que sabia manipular os jogos deles, sem que eles soubessem que estavam sendo manipulados. Eu estava me tornando uma jogadora, mas sem nunca perder a minha humanidade.
Mas, ao mesmo tempo, sabia que a qualquer momento tudo poderia desmoronar. Eu estava no centro de uma guerra que não escolhi, entre homens que podiam me destruir com um simples olhar. Cada dia era uma luta para me manter viva. Eu já não sabia mais se estava lutando por poder, por sobrevivência ou por algum tipo de justiça. Tudo estava em jogo, e cada movimento meu poderia ser o último.
James McSill: Hina, a situação ficou ainda mais perigosa para você, certo? O que aconteceu depois de você começar a perceber que estava no centro de uma guerra de poder? Como as coisas se intensificaram?
Hina: Cada passo que eu dava me levava mais fundo em um abismo sem fim, James. Eu estava começando a perder a noção de onde terminava o medo e onde começava a minha vontade de sobreviver. Cada vez que eu olhava ao redor, os rostos se tornavam mais ameaçadores, os olhares mais suspeitos. O clube era um cenário de guerra silenciosa, onde cada conversa, cada gesto, podia ser o começo do meu fim. Eu sabia que eu tinha que agir, mas também sabia que qualquer movimento errado poderia me custar a vida.
Foi numa noite, uma noite abafada, que as coisas realmente começaram a sair do controle. O novo grupo de homens da Yakuza estava em pleno funcionamento, e eu os observava, tentava entender o que estavam fazendo. Eles estavam mais poderosos, mais organizados, e a Yakuza tradicional estava começando a perder o domínio. As tensões estavam crescendo e, com elas, o medo.
Eu estava na sala dos fundos, onde sempre ficava quando o clube estava cheio. Eu tentava me esconder na escuridão, observando o que acontecia. Foi quando eu vi algo que não deveria ter visto. Um dos homens da Yakuza estava passando um pacote para um dos novos líderes. O pacote era pequeno, mas o que estava dentro... eu nunca soube, mas a troca foi feita em um canto escondido, fora da vista de todos.
Eu sabia que isso não era algo trivial. A troca não era só sobre dinheiro ou poder—havia algo mais sombrio acontecendo ali. Algo que eu não podia entender completamente, mas que sabia que era importante. Quando me aproximei para observar mais de perto, vi um homem mais velho, com um olhar duro e uma cicatriz atravessando seu rosto. Ele me olhou, e naquele momento, tudo pareceu parar. Ele sabia que eu estava ali, e o medo que senti foi palpável. Eu sabia que ele era alguém de alto escalão, alguém que tinha o poder de destruir qualquer um que o contrariasse. Ele me disse, de forma tranquila, mas com um tom ameaçador: "Cuidado, menina. Você está se metendo em algo muito maior do que imagina."
Eu congelei. Foi como se o chão tivesse desaparecido debaixo de mim. Como se eu tivesse sido atingida por uma verdade terrível que eu não queria ver. Ele sabia que eu estava observando, e sabia também que eu estava começando a entender o que estava acontecendo. Naquele momento, eu percebi que a única coisa que eu poderia fazer era agir rápido—ou eu estaria morta, como os outros que desapareceram antes de mim. Eu não sabia mais em quem confiar, mas sabia que eu não podia ficar parada.
James McSill: E o que você fez naquele momento, quando percebeu que estava tão envolvida com tudo aquilo?
Hina: Eu fugi, James. Mas não da maneira que qualquer um esperaria. Eu não podia correr, não podia gritar. Eu precisei ser mais astuta, mais inteligente. Quando aquele homem me disse para ter cuidado, foi como se ele estivesse me alertando, como se estivesse me dando um aviso para que eu saísse da linha de fogo, mas ao mesmo tempo me forçando a ver a verdade de frente. Eu sabia que ele não estava apenas me ameaçando, ele estava me dizendo que as coisas estavam prestes a ficar muito feias.
Nos dias seguintes, eu fiquei em silêncio, observando mais de perto, aguardando o momento certo. Eu sabia que a Yakuza estava em declínio, mas também sabia que o novo grupo estava ganhando terreno. Eles estavam fazendo alianças, se expandindo. A cidade inteira estava se tornando um campo de batalha, e eu era apenas uma peça pequena nesse jogo mortal.
Naquela noite, eu vi uma movimentação diferente. O líder do novo grupo estava reunido com o homem da cicatriz. Eles estavam discutindo, mas os murmúrios eram baixos demais para que eu conseguisse ouvir. Eu me aproximei, e foi então que percebi que algo estava prestes a acontecer. Eu sabia que estava sendo observada, mas, naquela hora, a necessidade de saber o que estava acontecendo era mais forte do que o medo.
Eu vi o líder mais novo pegar algo do bolso e passá-lo para o homem da cicatriz. Um contrato. Era claro que eles estavam fazendo um acordo. Não um acordo comum, mas algo com implicações muito mais graves. Algo que envolveria o futuro de todos os envolvidos. Nesse momento, eu soube que meu tempo estava acabando. Eu tinha uma escolha: sair agora e tentar escapar ou me envolver mais ainda, sabendo que a linha entre a sobrevivência e a morte estava mais tênue do que nunca.
Foi então que algo mais aconteceu. Eu ouvi os passos atrás de mim, e quando me virei, vi Lucas. Ele estava pálido, com os olhos arregalados. Ele me pegou pelo braço, me puxando para o lado. "Eles sabem, Hina. Eles sabem tudo. Você não pode mais ficar aqui." Ele me disse, com uma urgência desesperada na voz.
James McSill: O que aconteceu com Lucas? Ele parecia estar te alertando, mas você sabia que não podia confiar em ninguém. Como você reagiu?
Hina: Eu sabia que ele estava com medo, mas algo na sua expressão me dizia que ele sabia mais do que estava deixando transparecer. O pavor nos seus olhos me atingiu com força. Ele estava me dizendo para fugir, mas eu não podia. Não agora, não depois de tudo o que vi. Eu estava entre a espada e a parede. A situação estava prestes a se tornar ainda mais letal, e eu precisava saber o que estava acontecendo. Eu não poderia sair, não sem entender o que estava em jogo.
Mas quando ele me puxou mais forte, eu sabia que ele estava certo. Eles sabiam que eu estava observando, e se eu ficasse ali, poderia ser a última coisa que eu fizesse. Eu me afastei de Lucas, e, pela primeira vez, eu vi a dor em seu rosto. Ele sabia que não ia me convencer a ir embora. Eu estava perdida naquele mundo, e eu sabia disso.
A partir daquele momento, James, a única coisa que eu podia fazer era agir como se minha vida dependesse disso, porque, na verdade, dependia. Cada movimento, cada palavra, cada respiração podia ser a última. Eu estava em um jogo de vida ou morte, e a única saída era ganhar o controle. Mas o preço seria alto, e eu estava começando a perceber que esse jogo não tinha regras.
James McSill: Hina, você já passou por tanto sofrimento. Como tudo foi se intensificando a ponto de você sentir que não podia mais seguir em frente?
Hina: James, foi como estar em um pesadelo do qual você não pode acordar. Cada dia, cada noite, era como um eco de tudo o que eu já tinha perdido. O sofrimento não era só físico, era psicológico. Eu me sentia consumida, exaurida de tudo o que eu era. A dor era uma companhia constante, uma sombra que me seguia para onde quer que eu fosse. Mas foi naquelas noites, nos momentos mais solitários, que o verdadeiro peso da situação me atingiu com toda a força.
O clube já não era mais um simples local de trabalho, era uma prisão invisível, onde eu me via cada vez mais envolvida em um emaranhado de segredos, mentiras e mortes. As mortes começaram a ser mais frequentes. Alguns desapareciam sem explicação, e os rumores começavam a correr. Eu ouvi histórias sobre pessoas que entraram para o mundo da Yakuza e nunca mais foram vistas. Mas o mais aterrador era o que acontecia depois que essas pessoas desapareciam—os corpos apareciam em lugares distantes, em condições grotescas, como se fossem avisos silenciosos para os outros.
Foi uma dessas noites, no final de uma semana tensa, que tudo se tornou mais real do que nunca. Eu estava voltando para o meu pequeno apartamento, já tarde da noite, quando encontrei um envelope à minha porta. Dentro, havia um bilhete simples: “Você sabe demais. Não ouse falar sobre isso. Consequências virão.” O medo me paralisou. Quem havia deixado aquilo? E o que significava exatamente "consequências"? Não demorou muito para que a resposta se tornasse clara. Na manhã seguinte, o corpo de Lucas foi encontrado na rua. Ele estava praticamente irreconhecível—um aviso sombrio. Ele sabia que algo estava prestes a acontecer, e talvez soubesse mais do que eu.
A dor da perda de Lucas me consumiu de uma forma que eu não conseguia explicar. Ele tinha sido o único a tentar me proteger, o único que me disse que eu deveria sair dali antes que fosse tarde demais. E agora ele estava morto. A raiva e o pavor se misturavam em mim, criando um turbilhão de emoções que eu não sabia mais como controlar.
Eu comecei a me perder ainda mais. Comecei a usar drogas para tentar aliviar a dor. No começo, era apenas uma maneira de aguentar o peso dos dias, de desligar um pouco a mente que não parava de se martelar com lembranças e medos. Mas logo as drogas passaram a ser uma fuga constante, uma tentativa desesperada de esquecer a realidade. Eu sabia que estava indo para um caminho escuro, mas a dor se tornou tão insuportável que eu não sabia mais como parar.
Foi uma noite, após mais uma dose, que eu caí na conta de que algo ainda pior estava acontecendo. Eu estava em casa, assistindo a um vídeo no meu celular—um vídeo que ninguém deveria ter me enviado. Era um vídeo que mostrava a morte de Lucas. A filmagem não era clara, mas o suficiente para ver os rostos dos homens envolvidos. A tensão, o pavor de Lucas, os gritos abafados. Eu sabia que aquilo era a minha última chance de salvar a minha pele. Se eu falasse, se eu mostrasse aquele vídeo, as consequências seriam ainda mais terríveis. Eu estava em um jogo onde, a cada decisão, a minha vida estava em risco.
James McSill: Então você sentiu que estava sendo vigiada o tempo todo, sem conseguir escapar. Como foi lidar com isso?
Hina: A sensação de estar sendo observada foi se tornando cada vez mais real, James. Eu sabia que qualquer passo errado poderia ser o último. Mas a pior parte não era apenas o medo de ser morta. A pior parte era o sentimento de impotência, de estar em um jogo do qual eu não podia sair. A cada dia, os rostos se tornavam mais ameaçadores, e as conversas, mais carregadas de veneno. Os homens da Yakuza começaram a me ver como uma peça importante, mas também como uma ameaça em potencial.
Eles sabiam que eu estava começando a entender demais, que eu estava mais perto do que eles queriam esconder. A cada movimento que eu fazia, sentia que estava sendo seguida, observada. Quando saía para comprar comida, para respirar um pouco de ar fresco, eu podia sentir os olhos sobre mim. Não sabia mais em quem confiar, e o mais aterrador era que eu estava começando a desconfiar até das pessoas com quem eu compartilhava o meu espaço mais íntimo.
Foi em uma noite que a tensão atingiu o ápice. Eu estava sozinha no meu apartamento, e ouvi um barulho vindo da janela. Quando olhei, vi uma sombra se movendo. Meus batimentos aceleraram, e a adrenalina tomou conta do meu corpo. Eu sabia que estava sendo vigiada, mas nunca pensei que seria tão direto. Eu olhei pela fresta da cortina e vi dois homens parados na rua, olhando para o meu prédio. Eles estavam lá, esperando, observando, prontos para me pegar no momento em que eu fizesse qualquer movimento.
Mas, naquele instante, o pavor se transformou em algo mais. Eu não tinha mais escolha. Eu sabia que, para sobreviver, eu teria que enfrentar de frente o que estava à minha espera, ou morreria tentando fugir.
Eu comecei a fazer algo que não fazia há muito tempo—lutar. Não contra eles diretamente, porque sabia que isso era suicídio, mas contra o medo que me paralisava. Eu comecei a buscar uma saída. Eu sabia que, para sair daquele pesadelo, eu teria que usar as armas que aprendi a dominar: a inteligência, o disfarce, e a habilidade de manipular as situações a meu favor.
Mas, enquanto eu tentava criar meu plano de fuga, uma sensação de saudade começou a me consumir. Saudade da minha antiga vida, da mulher que eu já fui. Saudade dos dias simples, antes de ser arrastada para aquele inferno. Eu me perguntava se algum dia teria a chance de viver novamente, de ser quem eu era antes de tudo isso. Mas, ao mesmo tempo, sabia que nunca mais seria a mesma. As cicatrizes dentro de mim eram profundas demais para ignorar. E eu me perguntava se haveria uma maneira de eu escapar com minha sanidade intacta. Eu sabia que não seria fácil, que a estrada à frente seria árdua, mas algo dentro de mim ainda gritava por liberdade.
A cada dia que passava, mais eu me sentia escravizada, não só pelo mundo da Yakuza, mas por meus próprios demônios internos. Eu estava perdida entre a dor e a necessidade de sobreviver. E, a cada passo que eu dava, a sensação de estar sendo engolida por tudo o que eu mais temia aumentava.
James McSill: Hina, você me falou sobre momentos de grande dor e medo, mas o que aconteceu depois de você perceber que estava completamente envolvida nesse mundo? Como a situação foi se intensificando para você?
Hina: (suspira profundamente, a voz trêmula, mas firme) “Tudo se transformou em uma noite sem fim, James. Cada segundo se arrastando, cada movimento meu sendo vigiado. O mundo se fechou em torno de mim, e eu sabia que, a qualquer momento, eu poderia ser a próxima a desaparecer. Eu me vi em um lugar que não tinha mais volta.”
Ela faz uma pausa, como se estivesse revivendo o momento, suas mãos tremendo ligeiramente.
Hina: “Certo dia, depois da morte de Lucas, quando tudo parecia ter desabado, eu estava no meu apartamento, sozinha. O telefone tocou. Não era algo que eu esperava. Era um número desconhecido, e eu sabia... sabia que isso ia mudar tudo.”
Ela olhou para o chão por um momento, como se estivesse tentando se manter firme.
Hina: “Era uma ameaça disfarçada de aviso. Uma mensagem de texto. A foto de Lucas, seu corpo deitado na rua, sem vida. Uma legenda simples: 'Nada pessoal. Só negócios.' E foi aí que a minha mente explodiu. O medo se transformou em raiva, em uma vontade de quebrar tudo, mas ao mesmo tempo, uma sensação de impotência me paralisava. Eu sabia o que eu tinha que fazer, mas o pavor me prendia. Eu me vi jogada de volta naquele ciclo, vendo meu amigo morto e pensando que eu poderia ser a próxima.”
James McSill: Eu consigo perceber o peso daquilo tudo. Você passou de uma sensação de desespero para buscar uma saída, não foi? Como você agiu diante disso? Como decidiu enfrentar esse medo e seguir em frente?
Hina: (a voz de Hina fica mais firme, com uma dureza perceptível) “Eu sabia que, para sobreviver, eu tinha que ser mais do que uma vítima. Eu não podia mais ser aquela mulher frágil que se arrastava pelas ruas, tentando se esconder. Eu me vi em um beco sem saída. A raiva tomou conta de mim de uma maneira que eu não reconhecia. Não era só sobre vingança, era sobre recuperação, sobre encontrar alguma forma de controle. Se eu ficasse em silêncio, era como se a minha alma já tivesse sido comprada, e eu ia acabar como Lucas. Morte rápida, sem explicação. Eu não queria isso.”
Hina: “Foi quando comecei a usar o medo como arma. Não é algo bonito de se falar, mas eu comecei a observar. Cada gesto, cada palavra, cada olhar. Eu me tornei uma sombra, uma fantasma andando no meio deles. Eu andava pelas ruas, e sentia os olhos me observando, mas eu também observava de volta. Sabia que estava sendo vigiada, que qualquer erro poderia ser fatal. Mas eu estava indo fundo demais, James. Não tinha mais como voltar atrás. Quanto mais eu sabia, mais eu ficava presa nesse jogo. Eu estava entre a espada e a parede.”
James McSill: E o que aconteceu depois? Como você lidou com essa crescente tensão, sabendo que estava sendo observada e que sua vida estava em risco?
Hina: “Eu vi o preço que a verdade custa, James. Cada noite era uma luta para manter a sanidade. Eu estava me afundando cada vez mais em um buraco sem fim. As mortes começaram a se tornar mais frequentes. Pessoas desaparecendo sem explicação, os corpos aparecendo em lugares distantes, de formas grotescas. Cada vez mais, eu via que estava mais perto de entender o que estava acontecendo por trás de tudo isso.”
Hina fecha os olhos por um momento, como se estivesse tentando se lembrar de cada detalhe.
Hina: “Mas foi uma noite, uma noite particularmente sombria, que tudo mudou. Eu estava voltando para casa, quando vi um carro estacionado na rua. Eu sabia que ele estava me esperando. O homem de terno escuro, com o colarinho levantado, que sempre me observava. Ele me chamou para um encontro. Eu sabia que ele estava no topo da cadeia. Ele não era apenas um simples capanga. Ele me olhou com os olhos de quem já viu tudo, como se eu fosse uma peça descartável.”
Ela pausa por um momento, o olhar distante.
Hina: “Ele me disse que sabia de tudo, que eu estava muito longe de entender o que realmente estava acontecendo, que a Yakuza estava perdendo o controle, e que pessoas como eu, que começaram a descobrir demais, eram vistas como ameaças.”
James McSill: Como você reagiu? Estava pronta para lutar ou... você se sentiu ainda mais sozinha, perdida nesse jogo de poder?
Hina: “Eu sabia que não tinha mais como fugir. Não podia mais voltar ao lugar de onde eu vinha. Eu estava em um jogo onde cada movimento meu era observado, cada respiração minha podia ser minha última. Eu me vi encurralada, James. E, ao mesmo tempo, eu sabia que, se eu não enfrentasse isso agora, não teria mais chances.”
A voz dela fica mais baixa, como se o peso da memória a estivesse esmagando.
Hina: “Mas, a pior parte, James... A pior parte foi quando eu recebi aquele vídeo. Era um vídeo de Lucas. A filmagem não era clara, mas dava para ver os homens que estavam envolvidos em sua morte. Eles estavam rindo. Era como se eles estivessem fazendo um jogo de poder. Eu sabia que o vídeo era a única coisa que eu tinha, o que eu podia usar contra eles. Mas, ao mesmo tempo, sabia que, se eu mostrasse esse vídeo, o preço seria a minha vida.”
James McSill: Então você ficou com o vídeo, sabendo que ele poderia ser a chave para sua sobrevivência ou sua destruição. O medo de ser pega e a saudade da sua antiga vida começaram a crescer mais dentro de você, não é? Como foi sentir tudo isso?
Hina: (Hina parece perder a força, a voz se tornando quase um suspiro) “Eu sentia como se estivesse morrendo de dentro para fora. Cada noite eu me perdia mais e mais, me afundava nas drogas, nos vícios que me davam uma falsa sensação de alívio. A saudade... a saudade de quem eu era antes. A saudade de ser alguém simples, alguém que não tinha esse peso nas costas. Mas tudo estava tão longe. Tão distante. Eu sentia que minha alma estava sendo arrastada para um lugar escuro, sem volta.”
Ela levanta a cabeça e o olhar dela se endurece, como se estivesse voltando àquela mulher determinada que tinha sido, mesmo que brevemente.
Hina: “Eu sabia que não poderia continuar assim. A dor me corria nas veias, mas eu sabia que eu não poderia mais ser quem eu era. Eu precisava encontrar uma saída. Eu não ia deixar eles me quebrarem. Eu ia dar tudo o que eu tinha para sair desse pesadelo. Ou eu ia morrer tentando.”
James McSill: Você estava à beira do colapso, Hina. A dor, a perda, as escolhas impossíveis. O que aconteceu depois dessa noite? Como você se viu na encruzilhada entre sobreviver ou desaparecer?
Hina: (olhando para o horizonte, a voz quase inaudível) “Eu estava em uma encruzilhada, James. Tudo o que eu conhecia, tudo o que eu era, estava se desintegrando. Eu sabia que, se eu não tomasse uma decisão agora, eu seria engolida de vez. Então, fiz o que tinha que fazer. Eu tirei o vídeo. Eu estava pronta para usá-lo, mas não da forma que eles esperavam. Eu joguei o jogo deles. Porque, se eu não fizesse isso, não restaria mais nada de mim. Não seria mais Hina. Eu não seria nada.”
James McSill: Hina, você mencionou que a situação ficou ainda mais tensa depois do vídeo de Lucas. O que aconteceu depois de você ter feito a escolha de usar o vídeo? Como você conseguiu agir, sabendo que a qualquer momento tudo poderia desmoronar?
Hina: (sua voz fica um pouco mais baixa, a dor ainda é visível em seus olhos) “Eu não sabia mais em quem confiar, James. Cada esquina, cada sombra parecia esconder algo. O peso do vídeo me esmagava, e, ao mesmo tempo, era a única coisa que eu tinha. Era como se aquele vídeo fosse a chave para a minha sobrevivência, mas também a minha sentença de morte. A única coisa que eu sabia era que, se eu não usasse ele agora, não teria mais chances. Então, fiz o que tinha que fazer. Eu procurei os pontos fracos. Eu sabia que havia algo maior acontecendo, que a Yakuza estava começando a desmoronar. Eles estavam se enfraquecendo, e essa era a minha oportunidade de virar o jogo.”
Ela faz uma pausa, e por um momento, parece distante, perdida em seus próprios pensamentos.
Hina: “A primeira vez que eu realmente fui até o líder, aquele homem com a cicatriz no rosto, foi como entrar em um abismo sem fim. Ele era frio, calculista, e cada palavra que saía da sua boca era uma sentença. Eu sabia que ele não ia me deixar ir embora facilmente. Eu cheguei até ele, mas não sabia como começar. Eu sabia que ele me observava o tempo todo, como se já soubesse do vídeo, como se soubesse que eu estava armando algo. Ele me disse, com a voz tranquila, mas cheia de ameaça: 'Você acha que pode brincar com nós, Hina? A Yakuza não perdoa. Você pode tentar, mas o jogo não é seu.'”
Ela respira fundo, como se tivesse sentido novamente o peso daquelas palavras.
Hina: “Eu sabia que estava jogando um jogo perigoso. Mas não havia mais volta. Quando ele disse aquilo, eu senti uma raiva crescente dentro de mim. Eu não ia ser a próxima a ser esmagada. Eu não ia deixar ele continuar ditando as regras. Eu saquei o vídeo, e a sua expressão mudou na hora. Ele sabia o que aquilo significava. O jogo tinha mudado. Agora, era uma questão de quem iria ceder primeiro. Mas, naquele momento, James, eu percebi que não era só sobre poder ou vingança. Era sobre sobreviver.”
James McSill: Então, você usou o vídeo como uma forma de barganhar com eles. O que aconteceu depois disso? O que você fez para garantir sua sobrevivência em um jogo tão mortal?
Hina: “Eu sabia que precisava de mais do que apenas ameaças para garantir minha sobrevivência. Eu sabia que a única maneira de escapar seria usando os mesmos métodos deles. Eu precisei me tornar tão fria quanto eles, observar cada movimento, aprender a jogar a mesma jogada. Então, comecei a fazer contatos, discretamente. Ninguém podia saber que eu estava armando algo. Eu me infiltrei ainda mais no clube, comecei a observar cada movimento dos homens da Yakuza. E eu encontrei uma brecha.”
Ela olha para o relógio, como se o tempo fosse uma prisão, e seus olhos se escurecem de novo.
Hina: “Uma noite, quando o clube estava cheio, eu vi um grupo de homens, aparentemente fora do circuito, conversando em um canto. Eles pareciam ser aliados do novo grupo da Yakuza, aqueles que estavam tomando o poder. Era minha chance. Eu me aproximei deles, fingi que estava fora do radar, mas logo percebi que os olhos deles estavam em mim. Eles sabiam que eu estava ali, mas ao invés de me confrontarem, eles me convidaram para conversar. 'Você quer saber o que acontece a seguir?' me perguntaram. Eu sabia que estava arriscando tudo, mas não podia recuar.”
Ela fica em silêncio por um momento, os olhos perdidos no vazio, lembrando-se do medo e da raiva misturados com a necessidade de seguir em frente.
Hina: “Eles me disseram sobre um plano. Algo muito maior do que eu imaginava. Eles estavam prestes a tomar uma ação que afetaria a Yakuza inteira, uma reviravolta que mudaria tudo. Eu fiquei em silêncio, mas cada palavra que eles disseram me dava mais poder, mais controle. Eu sabia que era hora de agir, de usar aquilo a meu favor. Mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim queria sair daquele jogo. Eu estava cansada, exausta de toda aquela luta. Cada decisão que eu tomava me levava mais fundo no abismo. Eu sabia que estava me perdendo, que talvez não houvesse mais uma saída.”
James McSill: Você estava presa em um ciclo de escolhas impossíveis. Mas o que aconteceu depois disso? Como você lidou com o plano deles e com a sensação de que não havia mais saída?
Hina: (ela começa a olhar para baixo, como se fosse difícil falar sobre o que veio depois) “Eu sabia que era tarde demais para voltar. Quando aqueles homens me disseram sobre o plano deles, sobre como iam fazer a Yakuza se destruir de dentro, eu percebi que aquilo não era só uma jogada de poder. Era uma guerra interna. Eu estava me afundando mais e mais naquele mar de segredos, mentiras e traições. E, no meio disso, eu vi algo que mudou tudo. Eu vi o vídeo... não o que eles me mandaram, mas o vídeo de Lucas. O verdadeiro motivo pelo qual ele morreu. Ele sabia de tudo, e agora, estava claro. Eles sabiam que ele sabia, e isso foi o suficiente para...”
Ela se cala por um momento, as palavras difíceis de sair. A dor é visível, e o peso da culpa parece consumi-la.
Hina: “O que eles fizeram com ele foi um aviso. E eu... eu sabia que, a partir daquele momento, eu estava completamente envolvida. Não havia mais saída, James. Eu estava no centro de uma tempestade, e a única coisa que eu podia fazer era tentar sobreviver. E, para isso, eu precisei me tornar alguém que eu não reconhecia mais. Eu precisei usar as mesmas armas que eles estavam usando.”
James McSill: Então, você se tornou uma peça no jogo deles, uma jogadora fria e calculista. Mas você ainda estava tentando sobreviver, mesmo sabendo que a cada passo você estava mais distante de quem você era antes. Como foi viver com essa constante sensação de estar se perdendo?
Hina: (sua voz começa a tremer, a vulnerabilidade aparece, mas ela ainda mantém o controle) “Eu estava me perdendo, James. A cada dia, um pedaço de mim ia embora. Mas o pior era que eu não sabia mais o que estava fazendo. Eu não sabia mais quem eu era. Eu queria escapar, mas não sabia mais como. Eu estava em um labirinto, e tudo o que eu tinha era o medo me empurrando para frente. Eu já não sabia se estava lutando por minha liberdade ou apenas por mais tempo de vida. A cada noite, o pavor me dominava. E o pior? Eu sabia que a única coisa que restava para mim era... ser um monstro.”
Ela para, como se estivesse processando tudo o que disse. O peso das palavras é claro.
Hina: “Eu olhava para o espelho e não me reconhecia mais. A mulher que entrou naquele clube, com esperanças, com sonhos, já não existia mais. Eu estava à beira de um colapso total, mas não podia parar. Se eu parasse, tudo o que eu construí, tudo o que eu estava tentando alcançar, seria destruído em segundos. A guerra dentro de mim estava me destruindo, e a guerra fora... ela estava se tornando mais sangrenta a cada dia. Eu não sabia até onde poderia chegar, mas uma coisa era certa: eu não ia morrer sozinha.”
Hina: “Eu estava tão fundo nesse inferno que já não sabia mais onde começar. A sensação de estar perdida, de não saber mais quem eu era, estava me consumindo. Eu passei a me esconder na mentira, na falsa fachada de alguém que ainda tinha controle. Cada vez que alguém me olhava, eu sabia que eles podiam ver o quanto eu estava quebrada. Eu já não conseguia mais dormir sem sentir o peso do que estava acontecendo, mas, ao mesmo tempo, sabia que não havia mais volta. Eu não ia fugir. Não podia. Eu tinha um jogo para jogar agora e, para isso, precisava ser mais fria do que qualquer um ali.”
Hina: “E quando os homens da Yakuza começaram a desconfiar de mim, tudo ficou mais difícil. Não era só o medo de ser pega, era o medo de perder o controle do que eu estava tentando construir, da minha única chance de sobreviver a essa bagunça. Eu vi um dos homens, aquele com a cicatriz, me observando de longe, como se soubesse que eu estava armando alguma coisa. Eu podia sentir a tensão no ar, o cheiro de perigo a cada movimento. E quando eu vi o vídeo de Lucas pela segunda vez, o vídeo que ele fez antes de morrer, foi como se o peso de tudo caísse sobre mim de uma vez. Ele sabia que estava sendo vigiado, sabia que não tinha saída. Aquela imagem, aquelas palavras, me perseguiram como um fantasma, e eu sabia que eu não poderia simplesmente deixar aquilo para trás. Eu estava completamente envolvida e o único caminho que me restava era seguir em frente, sem pensar nas consequências.”
Hina: “Eu comecei a buscar mais informações, mais segredos, mais brechas. Eu me tornei uma sombra naquele lugar. Eu sabia como mover as peças no tabuleiro, como manipular as situações a meu favor. Não era mais sobre sobreviver, era sobre tomar o controle daquilo que, por tanto tempo, me controlou. Foi quando eu soube do plano. Um golpe de mestre que eles estavam preparando para tomar o controle da Yakuza inteira. E eu sabia que, se eu conseguisse usar essa informação, poderia virar o jogo. Mas a cada passo, o medo aumentava, as ameaças ficavam mais explícitas. Eu sabia que eles estavam me vigiando, mas a verdade é que eu estava mais alerta do que nunca. Era a minha chance de dar o golpe final, mas eu também sabia que, se falhasse, seria a minha morte.”
Hina: “Eu me encontrei em um beco sem saída uma noite, depois de receber um telefonema. Era o homem da cicatriz, me chamando para uma reunião. Eu sabia que não ia ser bom. Ele sabia de tudo, sabia que eu estava jogando o jogo dele e, naquela noite, a minha vida estava nas mãos dele. Mas não era só ele que estava me observando. Eu sentia a presença de outros, como se a sala estivesse cheia, como se todo o clube estivesse esperando para ver se eu ia ceder. Eu entrei na sala e ele me olhou, os olhos como lâminas. Não houve palavras primeiro, só aquele silêncio pesado. Eu sabia o que ele queria. Ele queria ver até onde eu iria. E, naquela hora, eu sabia que a única maneira de sair viva era seguir em frente. Ele me disse, ‘Você está jogando comigo, Hina, e isso vai te custar.’ Eu respirei fundo e disse, ‘Eu sei muito mais do que você pensa.’ E ele riu, riu como se soubesse que, naquele momento, eu estava mais longe da morte do que qualquer um ali.”
Hina: “Ele me pediu para fazer uma escolha. E eu sabia que, independentemente do que eu decidisse, as consequências iam ser pesadas. Se eu falasse, se eu expusesse o vídeo de Lucas e o que eu sabia sobre o plano deles, eu estava assinando minha sentença de morte. Se eu não falasse, ele ia me destruir do mesmo jeito, mas de uma forma mais lenta, mais dolorosa. Então, tomei uma decisão. Uma decisão que me fez virar a chave do jogo. Eu dei o vídeo. Eu mostrei tudo o que eu sabia, e o olhar dele, a expressão fria, não mentiu. Ele sabia que eu tinha feito a escolha certa. Mas não era só isso. Ele também sabia que, no fundo, eu não tinha mais nada a perder. Eu estava em guerra, e qualquer passo em falso significava o fim. Mas naquele momento, eu senti uma coisa que não sentia há muito tempo: controle. Eu estava controlando a minha vida, finalmente. E, por um breve instante, a sensação de poder me deu algum tipo de alívio. Eu não estava mais em fuga. Eu estava no comando.”
Hina: “Mas, James, mesmo com o controle, a dor não desapareceu. Era como se eu tivesse feito uma troca. Eu estava mais perto da morte do que nunca, mas agora eu tinha algo mais que poderia me manter viva. A Yakuza, aquele sistema imenso e cruel, estava se desintegrando diante dos meus olhos, e eu estava no centro disso. Cada movimento meu poderia ser fatal, mas era isso que me mantinha viva. Eu não tinha mais para onde correr. Eu não tinha mais ninguém a quem apelar. Eu era a única que podia decidir como isso tudo ia acabar. E, no final, eu não sabia se ia sobreviver a isso. Mas eu também sabia que, se morresse, morreria com a verdade em minhas mãos. E aquela verdade, aquela última peça do quebra-cabeça, era o único poder que eu tinha.”
James McSill: Hina, você realmente ficou entre a espada e a parede, não? A escolha de entregar o vídeo, mesmo sabendo que poderia ser a sua condenação... o que te fez tomar essa decisão, sabendo que os riscos eram tão altos?
Hina: "Sabe, James, quando você está no fundo do poço, a última coisa que você tem é a verdade. E a verdade, no meu caso, era aquele vídeo. Era a única coisa que eu podia usar para manter minha vida intacta, e talvez, por algum tempo, até ter o controle de algo. Eu estava com tanto medo, mas a sensação de estar completamente sem controle... de ser apenas uma peça em um jogo imenso... isso me paralisava mais do que qualquer ameaça que me fizessem. O vídeo não era só a minha salvação. Era a única coisa que poderia dar um pouco de poder a alguém como eu. Eu entreguei aquilo porque sabia que não tinha mais nada. Ou eu jogava as cartas, ou eu seria consumida."
James McSill: Você entregou o vídeo, mas sabia que o perigo ainda estava lá, que a Yakuza não iria simplesmente deixar você sair ilesa. Como foi essa sensação de estar constantemente vigiada, sabendo que a qualquer momento poderia ser a última vez que você respiraria livremente?
Hina: "Eu... eu nunca fui livre, James. Nem antes de entrar no clube. Só que, ali, as correntes eram visíveis. Cada olhar, cada palavra tinha peso. Eu comecei a ver os olhos deles por todos os lados, o tempo todo. Eles estavam em cada esquina, cada sombra. Não era paranoia. Era realidade. Eles estavam observando, esperando para me pegar no erro. Sabe, no início, eu pensava que podia escapar, que podia sair, mas a cada vez que eu pensava nisso, algo mais me puxava para dentro. Eu me vi mais uma vez naquele mesmo ciclo, e, quando você percebe que não há mais para onde correr, a sensação de estar sendo vigiada é constante. Era como se as paredes estivessem se fechando sobre mim, cada passo mais pesado, mais difícil. O medo não me deixava respirar."
James McSill: E quando você percebeu que não havia mais escapatória, quando estava tão dentro disso que a única opção era continuar jogando o jogo, como lidou com essa verdade? Como o sofrimento se transformou em algo que você sentiu que precisava controlar?
Hina: "O sofrimento... o sofrimento se tornou a única coisa que eu sabia fazer. A dor foi como um fogo, queimando cada pedacinho de humanidade que restava em mim. Mas o que eu não percebia era que essa dor estava me fortalecendo, de uma forma que eu não queria admitir. Quando você está no limite, você encontra forças onde antes não acreditava que existiam. E, no começo, eu não sabia se estava lutando por vingança, por sobrevivência ou por algo mais que eu ainda não entendia. Mas, então, eu comecei a perceber que estava ficando mais fria, mais calculista. O sofrimento se transformou em uma espécie de combustível, uma maneira de manter minha mente focada. Se eu sentisse a dor, eu usava ela para continuar. Se eu sentisse medo, eu usava ele para andar mais rápido, para me esconder melhor. Eu não tinha mais a capacidade de voltar atrás, então, em vez de me destruir, eu comecei a usar aquilo a meu favor. O sofrimento passou a ser o que me fazia seguir em frente."
James McSill: Você se transformou, Hina. E no meio disso tudo, quando tudo parecia desmoronar, você encontrou alguma forma de se apegar a algo? Algum vestígio da mulher que você foi antes de tudo isso? Ou já não restava mais nada de quem você era?
Hina: "Eu tentei, James, eu tentei. Mas a verdade é que, quanto mais eu tentava me lembrar de quem eu era antes, mais distante isso parecia. Eu olhava no espelho e não reconhecia a pessoa que estava ali. Eu sentia falta de quem eu fui, mas ao mesmo tempo, sabia que essa mulher não existia mais. Ela foi engolida pelo medo, pelo ódio, pela raiva. Eu tentei me agarrar a qualquer pedaço de humanidade que ainda restasse em mim, qualquer resquício de quem eu fui, mas cada vez que eu tentava, algo me puxava para a escuridão. Eu não era mais aquela mulher que entrou no clube com esperanças. Eu era alguém que sabia que, para sobreviver, precisava se tornar mais forte, mais dura, mais cruel. Eu não tinha mais escolhas. A mulher que eu fui, ela morreu naquela primeira noite, quando tudo mudou.”
James McSill: Essa sensação de perda de identidade, de se tornar outra pessoa... deve ter sido um peso enorme. Mas mesmo assim, você seguiu em frente. Como foi tomar a decisão de ir mais fundo ainda, quando a Yakuza começou a se desintegrar, quando o jogo de poder se intensificou?
Hina: "Eu comecei a entender que a única maneira de continuar viva era me tornar uma jogadora nesse jogo. Não mais uma vítima, mas alguém que controlava as peças. A Yakuza estava se desfazendo, e eu sabia que essa era minha chance de virar o jogo. Eu sabia que não tinha mais para onde correr, que, se eu não tomasse a dianteira, seria esmagada. Eu comecei a fazer movimentos calculados, observei os detalhes, a cada fala, a cada gesto. Eu me infiltrei mais e mais, observei as alianças que estavam sendo feitas, os movimentos que estavam sendo orquestrados nas sombras. Cada passo me aproximava mais do centro do poder. E quando eu percebi o que estava acontecendo, sabia que eu tinha algo nas mãos. Não era mais só sobre sobreviver. Era sobre dominar a situação, se tornar mais forte do que qualquer ameaça que estivesse à minha frente. Mas ao mesmo tempo, a sensação de que tudo estava escapando das minhas mãos me consumia. Eu sabia que, se falhasse, eu estava condenada."
James McSill: Esse jogo de poder, essa manipulação... você realmente se tornou uma jogadora, Hina. Mas em algum momento, você pensou em desistir? Olhou para trás e desejou que a vida fosse diferente?
Hina: "Sim. Muitas vezes, eu pensei em desistir, mas logo me lembrava que desistir significava desaparecer, desaparecer do mundo, da minha própria história. Eu não podia. Não depois de tudo o que passei. Não depois de ter visto Lucas, de ter sentido o peso do sofrimento de tantas pessoas. Eu não sabia mais quem eu era, mas uma coisa era certa: eu não ia ser mais uma pessoa que apenas desapareceria. Eu ia deixar minha marca nesse jogo, mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse. Às vezes, eu fechava os olhos e imaginava uma vida diferente, uma vida onde eu não precisasse estar ali, onde eu não fosse parte de tudo aquilo. Mas então eu abria os olhos e via o que eu tinha feito, o que eu era agora. Eu não poderia voltar atrás. A decisão já estava tomada. E, no fim, eu só queria garantir que eu não fosse esquecida. Que, de alguma forma, a minha dor tivesse significado."
James McSill: Hina, quando você finalmente começou a tomar o controle da sua vida, com o primeiro clube, como foi essa transição? O que mudou em você, vendo a realidade de uma forma tão crua?
Hina: "Eu sabia que, quando comprei o primeiro clube, não estava comprando apenas um negócio. Eu estava comprando um pedaço de mim mesma de volta, algo que tinha perdido naquele beco escuro onde tudo começou. A transição foi difícil, James, porque a cada dia, ao olhar para aquelas paredes sujas, eu via refletido nelas tudo o que eu tinha sido, tudo o que tinha passado. Mas também via meu futuro, algo que não tinha mais medo de criar. A cada novo contrato assinado, a cada pedaço de controle que eu tomava, eu me sentia mais forte, mais segura. Mas não vou mentir. As cicatrizes estavam lá, e não havia nada que eu pudesse fazer para apagá-las. O que eu fiz foi aprender a usá-las a meu favor."
James McSill: Você foi se tornando mais poderosa, mas com isso, também veio o peso das decisões, não é? Como foi lidar com as alianças e traições que surgiram ao longo do caminho?
Hina: "Ah, as alianças, as traições... eram como uma dança que eu nunca aprendi a dançar, mas que precisei dominar. Cada movimento era meticulosamente calculado. Eu sabia que, para chegar ao topo, precisava de aliados, mas a cada novo acordo, a cada nova parceria, eu também sabia que estava lidando com pessoas que não hesitariam em me derrubar se fosse para o bem deles. No começo, me senti perdida, tentando identificar quem era leal e quem estava apenas esperando a oportunidade de me trair. Mas, com o tempo, percebi que o segredo era não confiar em ninguém, mas sim saber usar as pessoas. Eu as observava, calculava cada gesto, cada palavra. A traição era uma constante, mas não me afetava mais como antes. Eu estava aprendendo a ser como eles, James. E isso me dava o controle."
James McSill: E a cada dia, enquanto seu império crescia, você ainda pensava em quem você foi antes de tudo isso? Em quem você era? Em sua dignidade? Ou isso já não fazia mais sentido para você?
Hina: "A dignidade... no começo, eu me perguntei se ela ainda existia dentro de mim. Quando comecei, parecia que eu estava deixando a minha dignidade no passado, junto com as memórias de um Brasil distante. Mas, com o tempo, percebi que a dignidade tinha um significado diferente agora. Eu já não tinha as mesmas ambições de antes. Agora, era sobre o poder, a sobrevivência. A luta constante entre ser quem eu era e me tornar quem eu precisava ser para viver. A cada novo dia, eu olhava para o espelho e via uma mulher diferente, uma mulher que não reconhecia completamente, mas que ainda carregava uma chama dentro de si. Eu não podia mais voltar atrás, então parei de tentar. Eu sabia que, se quisesse sobreviver, precisava abraçar a mulher que havia me tornado. A antiga Hina ficou no passado. Não havia espaço para ela no mundo que eu havia criado."
James McSill: Esse processo de mudança, de se tornar quem você precisava ser, deve ter sido devastador, mas também te deu algo em troca, não? O que você diria que foi a maior recompensa de tudo isso?
Hina: "A maior recompensa, James, foi a liberdade. Uma liberdade que eu nunca imaginava que poderia alcançar. Quando eu olhei para tudo o que havia conquistado—não só os clubes, mas a confiança que agora tinha no mundo em que eu vivia—percebi que eu estava no controle. O medo, o desespero, a dor, tudo isso ficou para trás. Não, eu não era mais a mesma pessoa, mas agora eu era algo mais forte, mais imune ao que antes me derrubava. A liberdade não veio sem sacrifícios, mas quando você se torna o mestre do seu destino, mesmo que à custa de sua própria humanidade, você percebe que tem algo que nunca teve antes: poder. E isso... isso é mais viciante do que qualquer coisa que eu já senti na vida."
James McSill: Agora que você tem esse poder, Hina, como você vê o futuro? O que significa para você ter chegado tão longe, sabendo que muitos não chegam nem perto disso?
Hina: "O futuro, James, é uma ilusão. Você vive uma mentira até o momento em que percebe que não existe mais futuro. Só o agora. O que eu conquistei não é um fim, é apenas a continuação de uma jornada que nunca acaba. Muitos olham para mim e veem sucesso, mas o que eles não sabem é que o preço para chegar aqui foi mais alto do que qualquer um poderia imaginar. Eu sou mais do que uma sobrevivente, sou uma guerreira. Mas também sou alguém que sabe que, a qualquer momento, esse império pode desmoronar. Porque ninguém se mantém no topo para sempre. E, no fundo, eu sei que sempre haverá alguém disposto a tomar o meu lugar. Isso é o que me mantém alerta, o que me faz continuar."
James McSill: Então, você se vê no topo, mas também vê a ameaça que nunca deixa de existir. O que você faria, Hina, se tudo isso se acabasse de repente? Se o império que você construiu caísse? Você ainda teria forças para recomeçar?
Hina: "Se tudo caísse? Se o império desmoronasse? James, eu nunca estive tão longe da queda quanto agora. O que eu construí não pode ser destruído por ninguém além de mim mesma. E, se algum dia isso acontecer, eu sei o que fazer. Eu sei como me reerguer. Eu sempre soube. Porque a verdadeira força não vem do que você constrói, mas do que você é capaz de fazer quando tudo está perdido. Eu não preciso de um império para ser quem sou. Eu sempre serei Hina, a mulher que sobreviveu a um inferno e que, de algum modo, fez desse inferno sua casa. O jogo não acaba até que eu diga que acaba. E, enquanto eu tiver força para continuar jogando, ninguém vai me derrubar."
James McSill: Hina, ao longo da sua jornada, você experimentou muitas traições, tanto de pessoas que pareciam ser suas aliadas quanto de outras que, à primeira vista, pareciam inofensivas. Pode nos contar um pouco sobre isso? Como essas traições se manifestaram e como você lidou com elas?
Hina: “Olha, James, no início, eu acreditava que a confiança era algo que poderia existir nesse mundo. Mas logo percebi que ela não tinha valor nenhum por aqui. Comecei a entender o que realmente significava ser parte daquele jogo. A primeira traição que me atingiu foi de um homem que, até aquele momento, parecia meu amigo. Ele também estava começando no clube, um brasileiro que eu conheci em um abrigo para imigrantes. No começo, ele me ajudava, me alertava sobre os riscos, me dava dicas sobre os clientes mais violentos. A gente se ajudava, ou pelo menos parecia que se ajudava. Mas um dia, ele se virou. No dia em que me levou ao clube pela primeira vez, ele simplesmente se afastou e me deixou lá, como se nunca tivesse me visto antes. Sem palavras, sem explicação. E quando eu olhei para ele, ele só me deu um sorriso cínico. Isso me cortou de uma forma que eu nunca esperava.”
James McSill: E como você lidou com isso, sabendo que alguém que parecia ser seu aliado havia simplesmente te deixado à mercê daquele ambiente brutal?
Hina: “Foi como um soco no estômago, James. Não vou mentir, foi uma dor amarga. Mas a partir dali, eu entendi que, se eu quisesse sobreviver, não poderia me apegar a ninguém. Ele foi o primeiro, mas não seria o último. A Yakuza estava cheia de traições, de alianças feitas por conveniência, sem nenhuma verdadeira lealdade. Cada vez que eu pensava que tinha encontrado alguém em quem confiar, a verdade vinha e me acertava como um punho. Mas eu aprendi a não me deixar abalar. Eu passei a olhar para as pessoas e ver só o que elas podiam me oferecer. Nada mais. Era assim que eu mantinha o controle.”
James McSill: Então, você começou a se tornar mais calculista, mais focada no que as pessoas poderiam te proporcionar. Mas, com o tempo, as traições passaram a vir de lugares inesperados, certo?
Hina: “Sim, você tem razão. A segunda traição foi de uma mulher. Ela era uma das garotas mais experientes do clube, alguém que, ao meu ver, estava lá há muito tempo e sabia tudo sobre o que acontecia nos bastidores. No começo, ela me acolheu, me deu conselhos sobre como lidar com os clientes, como sobreviver. Ela parecia ser uma espécie de mentora. Mas um dia, percebi que ela estava me observando de uma forma diferente. Era como se estivesse esperando o momento certo para me derrubar. E, em uma noite, enquanto eu trabalhava, ela começou a espalhar boatos sobre mim, dizendo aos outros que eu estava tentando tomar o lugar dela. Eu não sabia se estava realmente fazendo algo errado ou se ela só queria me destruir para se manter no topo. Quando percebi o que estava acontecendo, foi tarde demais. As outras garotas começaram a me olhar com desconfiança, e eu sabia que tinha perdido a única amizade verdadeira que tinha feito naquele lugar.”
James McSill: Então você passou a perceber que, além das traições de pessoas mais próximas, o jogo da Yakuza também envolvia uma teia de intrigas e manipulações mais complexas. Como você lidou com isso, sabendo que estava no centro de um campo de batalha tão sujo?
Hina: “Foi ali que eu realmente percebi que não havia mais inocência em nada. O jogo da Yakuza não era apenas sobre poder, era sobre quem podia manipular melhor. Cada movimento meu foi monitorado, cada palavra que eu dizia tinha um peso. Quando comecei a ganhar mais, mais fui observada, mais me tornei alvo. Eu comecei a ser cortejada por um dos chefes de uma das facções mais perigosas. Ele me fez promessas de poder, de liberdade. Mas eu sabia que, no momento que eu aceitasse, ele estaria no controle, e minha vida estaria à mercê dele. Foi uma decisão difícil, porque eu sabia que recusar poderia ser o fim, mas aceitar era se tornar apenas mais uma peça no jogo dele. Eu estava entre a espada e a parede.”
James McSill: E, ao fazer essa escolha, o que você sentiu? Como foi perceber que estava sendo envolvida ainda mais nesse ciclo de manipulação e poder?
Hina: “Eu me senti como se estivesse sendo sugada para dentro de um redemoinho, James. Eu via as pessoas à minha volta, todas lutando pelo mesmo objetivo, todas tentando se apoderar do que eu tinha conquistado. Cada movimento parecia mais desesperado que o anterior. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não podia parar. Eu estava muito longe de voltar atrás. Cada traição que eu sofria me fazia entender mais sobre esse mundo. Cada vez que alguém tentava me derrubar, eu usava aquilo a meu favor. Eu me tornava mais astuta, mais calculista. Eu sabia que, para sobreviver, precisava usar os mesmos truques que eles usavam. Era uma luta pela sobrevivência, mas não só física. Era uma luta pela alma.”
James McSill: O que aconteceu quando você finalmente se viu no controle, quando conseguiu se posicionar como alguém com poder real nesse mundo sujo?
Hina: “Quando eu finalmente consegui o que queria, não foi como eu imaginava, James. Eu esperava que me sentiria vitoriosa, mas o que eu senti foi o peso de cada traição, de cada decisão difícil que eu tinha tomado. Eu estava no topo, sim, mas não era o topo que eu sonhava. Eu olhava para tudo o que havia conquistado e sentia que a qualquer momento poderia perder tudo. Eu estava mais longe do que nunca de ser a pessoa que eu fui antes, mas ao mesmo tempo, me tornei alguém que ninguém mais podia desafiar. Cada dia no controle era uma luta constante para manter a posição, mas cada vez que alguém tentava me derrubar, eu usava aquilo como uma prova de que eu estava exatamente onde precisava estar. Eu não podia ser derrotada. Não mais.”
James McSill: Hina, depois de tudo que passou, você realmente chegou ao ponto de dominar tudo ao seu redor. Mas houve momentos em que você começou a se questionar, não? Como foi lidar com algumas das ameaças que surgiram ao seu redor, sem saber exatamente o que elas significavam?
Hina: “Havia sempre algo mais acontecendo, James. Algo que eu não entendia completamente. Como se eu estivesse sendo puxada para dentro de um jogo maior, onde as regras eram feitas por quem já estava muito além de mim. E o mais assustador era que, mesmo no auge do controle que eu achava que tinha, eu sabia que estava sendo observada. Alguém sabia o que eu estava fazendo, mas não era qualquer pessoa da Yakuza. Eu comecei a perceber pequenos sinais, coisas que não faziam sentido no começo: um olhar furtivo de alguém, um sorriso de escárnio quando eu entrava em uma sala, como se eles soubessem algo que eu ainda não sabia. Mas, naquelas horas, eu não podia me dar ao luxo de investigar. O jogo era perigoso demais, e eu não podia correr o risco de ser vista como vulnerável.”
James McSill: Então você começou a perceber que havia algo por trás de tudo, algo maior, uma conspiração, talvez? Como você lidou com esse sentimento de que estava sendo manipulada, mesmo quando parecia que estava no controle?
Hina: “A cada passo que eu dava, parecia que o chão sob meus pés começava a desaparecer. Eu estava no topo, mas a qualquer momento, eu podia ser derrubada. Comecei a receber mensagens anônimas. Cartas sem remetente. Bilhetes com frases enigmáticas. Como se estivessem me alertando, mas ao mesmo tempo me desafiando. Eu sabia que a Yakuza não fazia isso. Não era um dos meus aliados. Eram pessoas com quem eu nunca tinha lidado diretamente. Eles estavam jogando um jogo diferente, e eu não fazia ideia de quem eram. Um desses bilhetes dizia: ‘Você acha que está no controle, mas quem controla você está muito mais perto do que imagina.’”
James McSill: Isso parece uma ameaça direta. Como você reagiu a isso, sabendo que alguém estava jogando um jogo ainda mais perigoso com você?
Hina: “Eu não reagi imediatamente. O medo não me dominou. Mas a dúvida... a dúvida era mais difícil de controlar. Eu sabia que, se mostrasse qualquer sinal de fraqueza, me tornaria um alvo. Então, em vez de cair na armadilha, decidi investigar por conta própria. Comecei a observar mais, a procurar pistas. Eu sabia que, se fosse muito óbvia, as pessoas ao meu redor começariam a perceber. Mas algo começou a me incomodar, James. Eu tinha tudo o que precisava, eu estava no controle, mas aquela sensação de ser observada não me deixava. Até que um dia, um novo rosto apareceu no clube. Ele não parecia com ninguém da Yakuza, mas havia algo em seus olhos... algo familiar. Algo que me fez sentir como se ele soubesse mais do que eu estava preparada para entender.”
James McSill: Esse novo rosto... você conseguiu descobrir quem ele era? Como ele se encaixava nesse jogo maior que você começou a perceber?
Hina: “Eu não sabia quem ele era no começo, mas ele estava sempre onde eu estava, sempre nas sombras, como se fosse parte de algo que eu não conseguia decifrar. O nome dele era Kaito. Ele não fazia parte da Yakuza, mas sua presença ali não era por acaso. Ele começou a aparecer mais frequentemente nos bastidores, sempre em conversas com pessoas poderosas. Um dia, ele se aproximou de mim e me disse algo que me deixou sem palavras: ‘Você acha que está controlando tudo, mas você está apenas jogando o jogo deles. Eles já sabem o que você fez. Não é mais sobre você, Hina. É sobre quem vai ganhar esse jogo.’ Ele foi embora antes que eu pudesse reagir, e aquele olhar ficou marcado em mim. Eu sabia que algo estava errado, mas naquele momento, não pude fazer mais nada além de seguir em frente.”
James McSill: Então, você estava se aproximando de um ponto onde as peças estavam começando a se encaixar, mas ainda faltava algo. Você começou a perceber que todo o jogo estava prestes a mudar. Mas o que aconteceu depois disso? Como você lidou com essa sensação crescente de que uma grande mudança estava por vir?
Hina: “Eu comecei a perceber que a Yakuza não era mais o problema. O verdadeiro perigo estava vindo de fora. E, no fundo, eu sabia que Kaito estava certo. Eu estava jogando um jogo que não era meu. Quando me dei conta disso, foi tarde demais. Um dia, ao sair do clube, fui abordada por um homem. Ele estava vestido de forma simples, mas algo no olhar dele me fez parar. Ele não me disse seu nome, mas me entregou uma chave. A chave de um cofre. E uma mensagem: ‘Tudo o que você precisa para entender o jogo está lá. Se você tiver coragem de abrir.’”
James McSill: E o que estava no cofre, Hina? O que você descobriu quando finalmente abriu aquele cofre?
Hina: “Quando abri o cofre, eu encontrei documentos. E mais do que isso, encontrei fotos. Fotos de pessoas que eu conhecia, pessoas da Yakuza, mas também havia fotos de figuras poderosas de fora, pessoas que eu nunca imaginei que estivessem envolvidas nesse jogo. Eu vi que tudo o que havia acontecido até agora, todas as mortes, todas as traições, tudo fazia parte de um plano muito maior. Eu estava no centro de algo que não conseguia mais controlar. As peças começaram a se encaixar, mas as respostas não me aliviaram. Elas só aumentaram a tensão. Eu estava sendo manipulada, James. E o pior de tudo: eu não sabia por quem.”
James McSill: Então, você foi jogada em uma rede de manipulação ainda maior, mais complexa do que você jamais imaginou. Como você lidou com isso, sabendo que estava tão imersa em um jogo sem controle?
Hina: “Eu sabia que tudo estava desmoronando ao meu redor, mas a verdade era que eu já não tinha mais o controle de nada. O cofre revelou mais do que eu esperava. Não era apenas um jogo de poder local, era algo internacional. Eu me vi em uma rede de traições que conectava os maiores nomes do crime organizado, empresários poderosos, e até políticos. Cada movimento que eu fizera, cada decisão que eu tomara, parecia fazer parte de um plano ainda maior. Mas, naquele momento, James, eu sabia que não podia mais ser a peça nesse jogo. Eu precisava ser a jogadora. Se não fosse assim, eu teria perdido tudo. Eu comecei a planejar minha saída, mas ao mesmo tempo, sabia que não podia fazer isso sem enfrentar o verdadeiro inimigo. Eu não sabia quem era ainda, mas as respostas estavam bem diante de mim. Eu só precisava juntar os pedaços.”
James McSill: Hina, você tem vivido entre sombras, onde cada decisão parece ter o peso de uma vida. Mas o que realmente mudou dentro de você quando você percebeu que os inimigos não estavam apenas à sua volta, mas também dentro do seu círculo mais próximo? Como você lidou com isso?
Hina: "Eu comecei a entender que o maior inimigo não eram apenas os caras da Yakuza, mas as pessoas dentro do meu próprio círculo. As traições começaram a vir de onde menos eu esperava. Foi no segundo clube que tudo começou a se mostrar. Um dos meus funcionários, alguém que eu considerava uma pessoa de confiança, estava vazando informações. Eu sabia que ele estava em contato com alguém da Yakuza, mas quem? A paranoia me consumiu, e a dúvida começou a tomar conta de tudo. Até que uma noite, enquanto passava por um dos corredores dos bastidores, ouvi uma conversa. Ele estava ali, no escuro, falando com um cara que eu não reconhecia. A princípio, pensei que fosse mais uma jogada para me derrubar, mas depois percebi que ele estava me traindo com algo muito mais profundo: ele havia feito uma aliança com Kaito."
James McSill: Kaito... ele apareceu mais de uma vez em sua história. Ele é um dos pontos de ligação para algo maior, não é? Como você lidou com isso, sabendo que ele estava em um nível acima de qualquer coisa que você já havia enfrentado?
Hina: “Eu sabia que Kaito não estava ali apenas para me desafiar. Ele tinha um plano, e eu era apenas uma peça. Ele sabia mais do que estava mostrando. Quando percebi que meu funcionário estava envolvido, comecei a montar as peças do quebra-cabeça. Não foi apenas uma traição; era uma conspiração. Eu tinha que agir rapidamente, mas não podia deixar transparecer que estava ciente do que estava acontecendo. Eu precisava manter a calma. Não podia deixar que ninguém soubesse que eu já sabia do jogo deles. Eu estava no controle, mas também estava sendo vigiada. Cada movimento meu era observado. Eu me tornava mais solitária, mais desconfiada. Eu sabia que se caísse em uma armadilha, seria a minha ruína.”
James McSill: Então, você não foi para a confrontação imediata. Mas como lidou com esse jogo de espionagem, sabendo que o próprio Kaito poderia estar manipulando tudo por trás dos panos? Como você manteve a compostura?
Hina: “Não foi fácil. Não havia mais espaço para erros. Eu comecei a observar Kaito mais de perto. Percebi que ele sempre estava onde eu não esperava, sempre ouvindo mais do que deveria. Eu sabia que, para ele, eu era uma ameaça, uma pedra no caminho do que ele realmente queria. Mas o que me incomodava ainda mais era que ele sabia de algo sobre mim, algo que eu ainda não conseguia entender completamente. Era como se ele estivesse me provocando, me testando, esperando que eu caísse em sua armadilha. E então, quando percebi que ele estava mais perto de mim do que eu imaginava, comecei a sentir um frio na espinha. O jogo estava indo longe demais, e o preço da minha sobrevivência parecia ser mais alto a cada passo.”
James McSill: Você começou a sentir o peso da verdade se aproximando, mas a cada passo mais fundo no jogo, Hina, você percebeu que alguém estava jogando ainda mais sujo. Quando foi que você percebeu que o controle estava saindo das suas mãos?
Hina: “Eu pensei que tinha tudo sob controle, James. Mas a cada movimento que eu fazia, parecia que o chão se abria mais e mais. Eu estava rodeada de inimigos e aliados falsos, mas o verdadeiro golpe veio de onde eu menos esperava. Um dia, um dos meus clubes foi invadido. Eles sabiam tudo. Sabiam os nomes, os horários, o que estava acontecendo em cada canto do meu império. Quando o ataque aconteceu, eu sabia que algo não estava certo. Eu pensei que era um ataque de outro grupo, mas depois percebi que era mais do que isso. Os documentos, as fotos, as provas que eu havia encontrado no cofre... tudo estava sendo usado contra mim. Alguém dentro do meu círculo estava me traindo de novo, vendendo informações para Kaito.”
James McSill: Esse ataque, então, foi o ponto de virada. Como você lidou com isso? Como conseguiu se manter no jogo quando tudo estava desmoronando ao seu redor?
Hina: “Eu entrei em pânico, mas não pude deixar transparecer. Eu não podia mostrar fraqueza, não naquele momento. O ataque não foi apenas físico, James, foi psicológico também. Eles estavam me enviando uma mensagem clara: eu estava sendo observada, eu estava sendo controlada. Mas o pior de tudo foi quando eu percebi que os documentos no cofre não eram só sobre a Yakuza, nem sobre as alianças e traições. Eles estavam falando de algo muito maior. O que eles queriam não era só me derrubar, era me usar. Eu comecei a juntar as peças, a perceber que Kaito não estava ali para simplesmente destruir o que eu tinha. Ele queria algo muito mais profundo. E isso foi o que me deu a força para continuar.”
James McSill: Então, o verdadeiro jogo estava se desenrolando atrás dos bastidores, e você estava no meio disso, sem saber ao certo o que exatamente estava em jogo. Quando finalmente entendeu que as peças estavam se encaixando de maneira mais perigosa, como você decidiu reagir?
Hina: “Quando tudo começou a fazer sentido, James, eu soube que o jogo tinha mudado. Eu não era mais apenas uma peça, eu era a chave. Eles estavam me usando, mas eu sabia que, se usasse as informações certas, poderia virar o jogo contra eles. Mas o que me assustava era o quanto eu estava me afastando de quem eu era, de quem eu queria ser. Eu sabia que, se jogasse todas as cartas, eu estava arriscando minha vida. Mas se não jogasse, perderia tudo. Decidi então fazer o que Kaito não esperava: fiz minha jogada final. Sabia que ele queria me eliminar, mas, no fundo, ele não sabia que eu estava mais perto de desmascará-lo do que ele imaginava.”
James McSill: Hina, o peso da escolha que você fez ao entrar nesse mundo foi imenso, mas a maneira como você lidou com os segredos e os mistérios ao seu redor também foi decisiva. Quando percebeu que as coisas não eram apenas sobre a Yakuza, mas que havia algo ainda mais profundo por trás de tudo, como você reagiu?
Hina: “Eu sabia que o jogo da Yakuza era brutal, mas aquilo que estava acontecendo me fez perceber que eu estava dentro de um tabuleiro muito maior. Cada novo cliente, cada novo rosto que eu encontrava no clube, parecia ter mais camadas do que eu podia ver. Eu comecei a entender que estava sendo manipulada, mas ao mesmo tempo, me senti em uma posição de poder, por ter acesso a informações. As traições eram óbvias, mas a verdadeira ameaça estava por trás delas. A Yakuza não era o meu único inimigo. O verdadeiro inimigo estava mais próximo do que eu imaginava, e eu não sabia quem era. Eu comecei a perceber que o jogo não estava só acontecendo dentro do clube. Ele se estendia para a cidade, para toda a rede que se formava nas sombras, e eu era mais uma peça a ser movida. Eu precisava entender quem estava realmente no controle.”
James McSill: A sensação de estar sendo controlada por uma força maior deve ter sido aterrorizante. Quando você percebeu que tinha algo que poderia usar a seu favor, que poderia reverter a situação?
Hina: “Foi uma noite que mudou tudo. Eu estava no clube, atendendo clientes como sempre, quando um homem entrou. Não era um cliente comum, algo nele me chamou a atenção. Ele estava observando tudo, mas com uma calma que me fez desconfiar. Depois de algumas horas, ele se aproximou de mim e, sem rodeios, me disse: ‘Você está jogando o jogo errado, mas ainda tem chance de mudar de lado.’ As palavras dele me assombraram. Era como se ele soubesse tudo sobre mim. Não só sobre os meus medos, mas sobre os segredos que eu estava tentando esconder. Isso me fez pensar. Quem era ele? Como ele sabia tudo aquilo? Eu precisava descobrir, mas tinha medo. Medo de ser mais uma peça no jogo dele.”
James McSill: Esse homem parecia saber mais sobre você do que você imaginava. Como você lidou com isso, sabendo que poderia estar sendo manipulada por forças que estavam além do que você entendia?
Hina: “Eu sabia que precisava fazer algo, mas não sabia o que. Ele sabia demais, e isso me assustou. Não era só um simples aviso. Era uma ameaça velada. No entanto, eu sabia que se fosse seguir em frente, teria que começar a entender de onde realmente vinham os fios que puxavam as minhas ações. Então, comecei a observar mais de perto. Comecei a fazer perguntas, e logo percebi que o jogo estava em uma escala muito maior do que eu pensava. Comecei a rastrear pessoas, tentar entender os movimentos dentro do clube, a forma como tudo se encaixava. Mas o verdadeiro segredo estava além do que eu poderia alcançar. E quando eu pensei que estava perto de uma resposta, algo ainda mais terrível aconteceu. Me deparei com mais uma traição.”
James McSill: A traição parece estar em todo lugar, Hina. Como você lidou com a última que apareceu em seu caminho, sabendo que tudo ao seu redor estava começando a desmoronar?
Hina: “Eu me tornei uma espécie de peça em um jogo que não compreendia totalmente. Cada vez que eu pensava que estava no controle, algo novo surgia. Um dos meus aliados mais próximos, alguém que eu acreditava que estava ao meu lado, estava na verdade negociando em segredo com Kaito. Ele havia vendido informações sobre mim para garantir sua própria segurança. Quando descobri, a dor foi profunda, mas a raiva foi mais forte. Eu sabia que precisaria agir rápido, mas, ao mesmo tempo, não podia fazer nada sem saber com quem estava lidando. Se eu expusesse isso, poderia ser a minha destruição. Mas não fazer nada significava ser eliminada de forma silenciosa. Eu precisava pensar. Eu precisava ser mais astuta.”
James McSill: E foi nesse momento que você começou a tomar medidas ainda mais drásticas, não? Como você resolveu esse problema, sabendo que estava sendo traída por pessoas tão próximas?
Hina: “Sim, foi um ponto de virada. Eu sabia que precisava colocar um fim naquilo de uma vez por todas. Não bastava apenas sobreviver; eu precisava ser imbatível. Comecei a manipular a situação a meu favor, usand o segredo dele contra ele. Fui estratégica, e depois de algumas semanas, criei uma situação onde ele não teve escolha a não ser fazer o que eu queria. Mas isso não significava que eu estava livre. Não. Kaito ainda estava lá, observando, esperando. Eu sabia que, se não fosse o último movimento da minha vida, seria a minha última jogada, ponto final. Eu já não tinha mais medo. Eu estava fazendo a minha própria guerra.”
James McSill: Hina, esse jogo de poder, essas traições... você passou por tantos momentos de dor e manipulação, mas parecia que, a cada passo, você estava mais perto de uma grande revelação. O que você descobriu quando finalmente desvendeu esse mistério?
Hina: “Quando achei que tinha desmascarado tudo, o que encontrei foi ainda mais chocante. Eu estava no centro de uma rede internacional de poder, mas o que realmente me surpreendeu foi descobrir que a maior ameaça não era a Yakuza, não era Kaito... era alguém dentro do meu próprio círculo. Eles me usaram, e eu nunca percebi. A verdade, James, é que quem estava por trás disso tudo, quem realmente orquestrava tudo, era alguém com quem eu tinha feito uma aliança, alguém que eu nunca imaginei que fosse capaz de me trair dessa forma. Quando tudo se encaixou, percebi que minha própria sobrevivência sempre esteve em suas mãos. Eu fui um peão, sem saber, e quando finalmente vi isso, tive que dar o meu último golpe. Mas eu não posso te contar agora o que aconteceu depois. Só sei que, ao final, foi uma guerra de astúcia, uma luta onde o único vencedor é quem souber jogar o jogo mais sujo.”
James McSill: Hina, você começou a perceber que o ambiente era ainda mais perigoso do que imaginava. Com cada passo, você se viu mais imersa na teia de mentiras e manipulações. Mas, ao mesmo tempo, parecia que você estava aprendendo rapidamente as regras desse jogo. Como você lidou com esse processo de se tornar parte do sistema que antes parecia tão distante?
Hina: "Eu sabia que, ao aceitar o trabalho no clube, minha vida estava mudando para sempre. Mas o que eu não sabia era o quanto isso me transformaria. Cada noite era uma prova de resistência, uma luta para não perder minha humanidade. Eu andava pelo clube, observava os outros, sentia os olhares desconfiados dos clientes, e sabia que qualquer erro poderia ser fatal. Mas, ao mesmo tempo, aprendi que esse jogo exigia mais do que simples sobrevivência. Eu tinha que ser astuta, mais esperta que os outros. Quando o veterano, aquele brasileiro que já estava há anos ali, me disse que qualquer erro poderia me custar mais que o emprego, eu sabia que ele estava me alertando para algo muito mais profundo. O que acontecia nesse clube não era só sobre o que se via, mas sobre o que se escondia nas sombras.”
James McSill: Então, as coisas foram se tornando cada vez mais complexas, com você se sentindo mais controlada, mas também mais poderosa. Quando você começou a perceber que o jogo estava indo além do seu entendimento, e que a Yakuza tinha mais envolvimento do que você imaginava?
Hina: “Eu não sabia, James, que a Yakuza estava por trás de cada passo meu. No começo, eu achava que estava apenas trabalhando para os donos do clube. Mas logo percebi que isso era muito maior. O dinheiro que eu ganhava não era só meu salário – era parte de algo muito mais sujo. Cada cliente que entrava no clube, cada cliente que me fazia um pedido, era uma parte de um sistema que me usava. Eu comecei a sentir que estava sendo observada, vigiada. Como se algo mais estivesse em jogo e eu fosse apenas uma peça de uma peça ainda maior. E então, quando o veterano me disse que 'qualquer erro podia te custar mais que o emprego', aquilo se tornou um alerta real. O medo começou a se infiltrar nas minhas noites. Mas não era o medo de falhar – era o medo de não entender o que realmente estava acontecendo ao meu redor.”
James McSill: A sensação de estar sendo observada e manipulada por algo maior deve ter sido aterradora. Como você reagiu quando percebeu que as peças desse jogo estavam se encaixando, mas de uma maneira que você não imaginava?
Hina: “Havia momentos em que eu sentia que a verdade estava bem diante de mim, mas eu não conseguia tocá-la. Aquele clube, o lugar que deveria ser apenas um passo na minha vida, estava se tornando uma prisão. Eu era observada, mas não era só por clientes da Yakuza – eram pessoas que estavam ali para me vigiar. Eu comecei a perceber que não estava só jogando para sobreviver, mas estava sendo usada. Cada um dos clientes tinha uma ligação maior com o sistema de poder do clube, e eu não sabia até onde isso ia. Quando os outros começaram a me tratar com mais frieza, percebi que havia algo que eu não entendia, algo que estava sendo escondido de mim. Eu estava sendo manipulada, e a cada jogada, minha liberdade diminuía mais e mais. Mas eu não podia desistir. Se não fosse jogar esse jogo, perderia tudo.”
James McSill: Esse jogo, onde as regras são tão difíceis de decifrar e as ameaças vêm de todos os lados, parece ter colocado você em um caminho sem volta. Mas o que aconteceu quando você finalmente teve a oportunidade de tomar controle? Como você lidou com a situação quando a oportunidade apareceu para mudar sua vida?
Hina: “Eu sabia que a chance que eu tinha era única, mas, ao mesmo tempo, o preço para tomar o controle era alto demais. Quando o clube em Tóquio estava falido e o dono estava desesperado, eu sabia que era a oportunidade perfeita. Mas, ao mesmo tempo, sabia que a pessoa que tomasse esse clube teria que lidar com as dívidas, com a Yakuza e com tudo o que acontecia nas sombras. Quando fiz a oferta e o clube foi finalmente meu, não me senti vitoriosa. Eu senti que tinha apenas feito uma troca, uma troca pela minha alma. Mas, por dentro, sabia que essa era a única maneira de me libertar. O problema é que, à medida que eu começava a ganhar mais poder, percebia que ele trazia mais problemas, mais traições. A Yakuza ainda estava por trás de tudo, e eu já não tinha certeza de quem eu estava realmente enfrentando.”
James McSill: Então, ao conquistar o controle, você percebeu que o jogo não estava terminado, que ele apenas mudava de fase. E o que aconteceu quando as primeiras traições começaram a surgir? Como você lidou com isso, sabendo que as alianças estavam se desfazendo ao seu redor?
Hina: “As traições começaram a vir de dentro da minha própria casa. Eu estava sendo observada por todos os lados, e ninguém confiava em ninguém. Mas o mais chocante foi descobrir que um dos meus aliados mais próximos estava vendendo informações para a Yakuza. Quando percebi isso, fiquei em choque, mas sabia que não poderia demonstrar fraqueza. Esse homem, que sempre me elogiou e parecia estar do meu lado, era na verdade um agente duplo. Ele me vendeu por nada. Foi uma das piores traições, porque ele conhecia meus segredos, sabia minhas fraquezas. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que tinha que usar isso a meu favor. Eu o expus de uma forma que ele jamais imaginou. Eu fui a primeira a atacar. Eu sabia que, se fizesse o movimento certo, poderia virar o jogo a meu favor.”
James McSill: Hina, você já passou por tantas reviravoltas, tantas traições, mas a luta não parou. Quando você pensou que finalmente estava controlando tudo, o que aconteceu para que a situação mudasse tão drasticamente?
Hina: "Eu comecei a achar que tinha tudo sob controle, James. O clube estava funcionando bem, eu estava fazendo as negociações certas, e a Yakuza parecia estar mais distante. Mas o que eu não percebi é que, ao tentar garantir minha posição, acabei criando mais inimigos. Não foi só uma traição que veio, mas várias. Comecei a ouvir rumores de que, dentro da própria Yakuza, havia uma facção que me via como uma ameaça. As coisas começaram a ficar mais tensas, mas, no fundo, eu sabia que, se quisesse realmente ter o controle, não podia hesitar. Então, tomei uma decisão. Eu sabia que precisava ser mais forte, mais decisiva. Mas, no momento em que tomei a frente, percebi que estava cavando minha própria cova. Porque, enquanto eu estava ocupada lutando pela minha sobrevivência, havia outras forças jogando o jogo deles."
James McSill: Então, você percebeu que, ao tomar o controle, estava também se tornando um alvo ainda maior. Como foi lidar com a sensação de estar no centro de uma conspiração tão complexa, sabendo que você era apenas uma peça no tabuleiro de outros?
Hina: “Foi um choque, James. Quando percebi que estava sendo manipulada por outros, tudo ficou mais claro. Aquela sensação de controle que eu achava que tinha, na verdade, era uma ilusão. As peças estavam sendo movidas ao meu redor, e eu era apenas uma jogadora tentando não ser esmagada. As traições que vinham de dentro do meu círculo foram as mais difíceis de engolir, porque eram pessoas que eu confiava. Pessoas que eu achava que estavam ali por mim. Mas eu vi, de forma bem brutal, que todo mundo estava jogando o jogo por si. A lealdade não existia. Eu pensei em desistir várias vezes. Mas a ideia de perder tudo, perder o que eu havia conquistado, me fez continuar. E foi então que a situação mudou de uma maneira que eu não esperava.”
James McSill: O que aconteceu? O que te fez perceber que a situação estava saindo do seu controle de forma definitiva?
Hina: "Eu estava em uma reunião com alguns dos líderes da Yakuza, e algo que eu nunca imaginei aconteceu. Eles estavam discutindo, como sempre, sobre negócios, sobre como dividir as ganancias, mas, de repente, um dos homens, o chefe da facção rival, se virou para mim e disse: 'Você tem o controle, Hina, mas não é o controle que pensa que tem.' Naquele momento, eu soube que estava sendo manipulada. Eles estavam me deixando pensar que eu tinha poder, mas eu estava sendo usada para um jogo maior. Eles já sabiam do que eu era capaz e estavam apenas esperando o momento certo para me derrubar.”
James McSill: Esse momento foi crucial, então. O que você fez quando percebeu que não tinha mais controle? Como reagiu sabendo que os próprios inimigos estavam te guiando em direção à queda?
Hina: "Eu precisei agir rápido, mas não de forma impulsiva. Eu sabia que qualquer erro agora seria fatal. Fui calculista, e em vez de atacar, eu usei a situação contra eles. Usei as fraquezas dos meus próprios aliados e, por um momento, fiz eles acreditarem que estavam no controle. Mas tudo o que eu queria era uma oportunidade para sair desse jogo de uma vez por todas. O problema é que, mesmo tentando me afastar, eles não me deixavam. Cada movimento que eu fazia para escapar me levava mais para o centro do problema. Eu estava completamente envolvida, James, e não havia mais como escapar.”
James McSill: Então, você começou a ver que não havia saída fácil, não é? E isso te forçou a continuar jogando, apesar de tudo. Quando você decidiu dar o golpe final, o que foi que você fez para garantir sua sobrevivência?
Hina: "Foi quando um dos meus aliados, aquele homem que confiava em mim, tentou me trair. Ele tentou me usar para conseguir uma posição mais alta dentro da Yakuza, mas não sabia que eu estava preparada. Ele estava me preparando para cair, e eu sabia disso. Então, quando ele tentou dar o golpe, eu fui mais rápida. Usei as informações que tinha para virar o jogo contra ele. Mas a questão, James, não era apenas derrotá-lo. Era fazer com que todo o jogo visse que, se eu quisesse, poderia ser o último a rir. Eu destruí sua posição na Yakuza de uma forma que ninguém poderia prever. Depois, fiz algo que nunca imaginei fazer: me afastei, de verdade.”
James McSill: Então, você se distanciou de tudo o que construiu, por mais difícil que fosse. O que te levou a essa decisão final, Hina?
Hina: "Eu pensei que estava no controle, mas, ao perceber tudo o que havia acontecido, eu entendi que a única maneira de sair dessa rede era me afastar. Eu não podia mais viver no meio de todas aquelas mentiras. Não queria mais ser uma peça no jogo de alguém. Eu sabia que minha sobrevivência não dependia mais de ser a melhor jogadora, mas de sair de cena antes que fosse tarde demais. Eu destruí tudo o que construí, para garantir que ninguém mais pudesse destruir o que restava de mim. O que sobrou foi a sensação de estar livre. Mas liberdade não vem sem sacrifícios.”
James McSill: Então, você sacrificou tudo para se libertar. Mas, Hina, o que você aprendeu com toda essa experiência? O que ficou de tudo o que você passou?
Hina: “Eu aprendi que, no final, ninguém controla o jogo. O jogo é quem controla você. Eu cheguei a um ponto onde não queria mais ser parte disso. Não queria mais fazer parte de uma rede de poder que só trazia destruição. O que restou de tudo isso foi uma versão de mim mesma que não reconheço mais. A mulher que entrou naquele clube não existe mais, James. Ela foi consumida pelo poder, pela mentira, pela dor. Eu saí porque, no fundo, sabia que não há realmente vencedores nesse tipo de jogo. Só há aqueles que sobreviveram. E eu, no fim, consegui sobreviver.”
James McSill: Hina, você passou por um caminho tortuoso, cheio de mistérios e ameaças, e com um grande peso cultural ao seu redor. A Yakuza, a cidade, os clubes, tudo isso faz parte de uma cultura muito específica, com códigos e normas que moldam as ações. Como a cultura do Japão, com sua forte ênfase em honra e lealdade, influenciou suas decisões durante todo esse processo?
Hina: “Sabe, James, quando você entra nesse mundo, a primeira coisa que aprende é que nada é o que parece ser. A cultura japonesa tem esse modo de encarar as coisas com uma honra silenciosa, uma lealdade que beira a obediência cega. Eu sempre soube que as coisas não funcionavam da maneira ocidental, mas eu não imaginava o peso disso até realmente estar dentro. Quando entrei para a Yakuza, vi que a honra deles não era apenas um símbolo, mas uma prisão. Eles tinham códigos rígidos, e qualquer erro era visto como uma falha não só pessoal, mas como uma falha de todo o grupo. A vergonha que se sente quando se quebra um desses códigos é inimaginável. No entanto, eu também percebi que, por baixo da superfície, as coisas eram muito mais sujas do que pareciam. As traições eram disfarçadas de lealdade, e cada pessoa tinha algo a esconder. A cultura, a aparência de honra, era uma máscara que encobria a verdadeira natureza de tudo.”
James McSill: A honra e a lealdade são pilares dessa cultura, mas parece que, no seu caso, eles foram usados contra você. Você foi forçada a lidar com esses códigos de maneira perversa. Como você começou a entender que tudo estava sendo manipulado de uma forma que você não imaginava?
Hina: “Eu vi o quanto essas normas culturais eram manipuladoras. O mais insidioso era como eles usavam a honra para te prender, te fazer acreditar que devia algo a eles. Eles te faziam sentir que, se você quebrasse qualquer código, não só perderia a honra, mas também a própria identidade. Eu vi homens poderosos, como o chefe da facção rival, fazerem coisas abomináveis e ainda assim se apresentarem como exemplo de honra. A verdade era que, enquanto eu tentava me adaptar a esse jogo, eu estava sendo engolida por ele. Eu fui ensinada a valorizar a lealdade, a confiança, mas logo percebi que a lealdade deles não era para mim – era para um sistema que não se importava com as pessoas. Eu estava lutando por algo que nem existia. As regras que eu seguia estavam distorcidas, porque, no fundo, tudo no Japão parece estar em uma dança de aparências, onde a verdade é o maior segredo. A honra é apenas a fachada.”
James McSill: Parece que, à medida que você foi se aprofundando no jogo, as consequências das traições começaram a pesar mais. Você sentiu o peso de tudo isso quando começou a perceber que a lealdade não era verdadeira e que, no fim, todos estavam lutando apenas por poder?
Hina: “Sim, foi quando comecei a entender que a lealdade que eu buscava não existia. Eu vi aqueles que juraram lealdade ao meu lado se virando contra mim. Eles estavam me manipulando o tempo todo, jogando suas cartas de maneira tão dissimulada que eu não percebia até ser tarde demais. Uma das maiores traições foi quando percebi que até mesmo Kaito, que eu considerava uma espécie de aliado, estava apenas me usando. Ele estava jogando a mesma jogada que os outros – me mantendo sob controle para que eu fizesse o trabalho sujo, enquanto ele ficava nas sombras. Esse foi o momento em que percebi que o que eu via como honra não passava de uma máscara. Na cultura japonesa, o conceito de honra é profundo, mas no fundo é também um peso. Ele exige sacrifícios. E eu, cada vez mais, me vi sendo forçada a fazer sacrifícios pelos outros, em nome dessa honra que eles me impuseram. Mas o pior é que eu mesma me deixei ser manipulada por isso. Como um peão em um jogo de xadrez, eu não via as jogadas até ser tarde demais.”
James McSill: E quando as coisas começaram a desmoronar, quando você percebeu que as ameaças estavam realmente acontecendo, o que passou pela sua mente? Como você lidou com o fato de que estava agora no centro de um sistema que parecia impossível de escapar?
Hina: “Eu fiquei atônita, mas ao mesmo tempo algo dentro de mim se acendeu. Eu sabia que não tinha mais escolha, James. Fui empurrada para um canto e precisei agir. Quando os homens começaram a me olhar como uma ameaça, e a Yakuza começou a se voltar contra mim, eu sabia que ou eu lutava ou caía. O que me deu força foi ver que eu tinha aprendido os mesmos truques que eles usavam. Eu sabia que, se fosse me render ao medo, seria a minha morte. Então, comecei a jogar o jogo deles contra eles. Como eles fizeram comigo, eu joguei sujo. Não foi fácil, e a pressão aumentava a cada passo. Eu vi as consequências, as mortes. A cultura de honra que me impuseram foi a mesma que me fez ver o que realmente era necessário para sobreviver. A honra que me ensinaram me prendeu, mas também me deu o poder para fazer o que precisava ser feito.”
James McSill: Você usou os mesmos métodos, a mesma cultura que inicialmente te destruiu, para tomar o controle de volta. Mas agora, com o poder em suas mãos, o que você realmente percebeu sobre si mesma e o que restou da pessoa que entrou nesse mundo?
Hina: “Eu me tornei mais forte, mas a um custo. O poder, James, é uma faca de dois gumes. Você se sente imbatível, mas as cicatrizes internas são profundas. O que me resta não é a mesma pessoa que entrei naquele clube, mas algo diferente. Não sei se estou mais viva ou mais morta. Eu sou o produto de um sistema que não me deixou outra opção a não ser me tornar parte dele. A cultura japonesa, com todo seu peso de honra e lealdade, acabou por me moldar. Mas, ao mesmo tempo, essa mesma cultura me destruiu. Eu não sou mais uma mulher que acredita na lealdade cega, na honra sem questionamento. Agora, eu vejo tudo isso como o que realmente é: uma ilusão que todos usam para se manipular e para controlar. Eu usei isso contra eles, mas no fundo, sei que eu sou o reflexo de tudo o que passei.”
James McSill: Hina, ao olhar para trás, parece que você foi consumida por esse sistema implacável. Mas, ao mesmo tempo, você conseguiu virar as regras do jogo a seu favor. No entanto, você mencionou que havia algo que não podia mais ser revertido. O que isso significa para você agora? O que resta da mulher que entrou nesse jogo?
Hina: “Eu passei tanto tempo tentando entender quem eu era dentro desse sistema, tentando sobreviver, tentando ser forte, que me esqueci de quem eu era antes disso tudo. O problema, James, é que no meio de tanta manipulação e poder, você começa a perder o que é verdadeiro dentro de você. Eu não tinha mais um lugar para me esconder, não tinha mais uma linha que separasse o que eu era antes e o que me tornei. A honra, aquela ideia de lealdade que me foi imposta, ficou diluída. Eu não sabia mais o que isso significava para mim. Eu me tornei uma pessoa que manipula a lealdade, usa a honra como uma faca de dois gumes, mas ao fazer isso, perdi a minha humanidade. A mulher que entrei nesse mundo, aquela sonhadora, ela já não existia mais. O que ficou foi uma mulher que aprendeu a lutar com as mesmas armas que os outros usaram contra ela. Mas agora, o que eu quero saber é: vale a pena?”
James McSill: Esse questionamento, Hina... é um reflexo das consequências que você enfrentou. Mas você ainda se vê como uma jogadora? Ou, agora, está presa no próprio jogo que você construiu?
Hina: “Eu me vejo como uma jogadora, mas também estou ciente de que o jogo nunca acaba, James. Sempre há uma peça que se move para me derrubar, e o pior é que, quando você chega ao topo, começa a perceber que está sendo constantemente vigiado. A cidade, com suas ruas apertadas e seus becos escuros, está cheia de vigilantes invisíveis. Eu me tornei uma parte disso. E eu não posso escapar disso, não importa o quanto eu tente. Os fantasmas das minhas escolhas estão sempre ao meu redor, e quanto mais tento fugir, mais a sombra do passado me segue. O que eu percebi, então, é que o jogo não é sobre vitória ou derrota. O jogo é sobre sobrevivência. E, enquanto eu estiver jogando, nunca estarei livre.”
James McSill: Então, o que você sente agora, sabendo que está tão imersa nesse mundo? Mesmo com a possibilidade de controle, você sente que não pode sair?
Hina: “Às vezes, James, eu vejo uma brecha, uma oportunidade para sair dessa prisão mental, dessa teia que me prende. Mas logo percebo que a liberdade que eu busquei não existe mais. O poder, que inicialmente parecia ser a chave para a minha sobrevivência, agora me amarra. Eu não sou mais apenas uma peça, mas parte do sistema. Eu jogo com as mesmas cartas que os outros, mas eu entendo agora que nada é definitivo. Eles fazem você acreditar que está no controle, mas no fundo, são eles quem decidem quando o jogo acaba. Eu comecei a aceitar que essa será minha vida: jogando até o último momento, tentando escapar das garras daquilo que criei, mas sempre voltando para o ponto inicial. Eu me tornei uma parte do jogo, e, enquanto não houver uma saída real, eu continuo jogando. E quem sabe até onde isso me levará.”
James McSill: Parece que, embora você tenha se tornado mais forte, também ficou presa nesse ciclo. O jogo de poder, as manipulações, tudo isso agora está gravado em quem você é. Você já pensou sobre o que pode acontecer quando esse ciclo finalmente chegar ao fim? Como isso pode terminar?
Hina: “Acho que, no fundo, James, todos que entram nesse mundo sabem que um dia o fim chega. E, no meu caso, não há dúvida de que a queda será inevitável. Eu vejo isso a cada dia, em cada olhar, em cada palavra que me é dita. A questão não é se, mas quando. A verdade é que esse mundo, com todas as suas regras, manipulações e traições, vai devorar quem não souber quando parar. Mas não é só a Yakuza que me ameaça. Existe uma rede maior, mais profunda. As peças se movem o tempo todo, e quem acha que controla tudo está apenas aguardando o momento certo de ser derrubado. Eu posso ter o controle agora, mas sei que não posso tê-lo para sempre. E o pior de tudo é que, quando chegar o momento da queda, quem eu serei? O que restará de mim, da mulher que entrei nesse jogo, da Hina que desejava mais do que sobreviver?”
James McSill: Então, você reconhece que está presa no jogo, mas ainda tem uma luta interior sobre quem você realmente é. Mas, ao mesmo tempo, as ameaças continuam a crescer. O que você fará quando finalmente chegar ao ponto de não ter mais como voltar atrás?
Hina: “Quando esse momento chegar, James, eu sei o que farei. Vou usar tudo o que aprendi nesse jogo. Vou jogar com mais força, mais determinação do que jamais imaginei ser capaz. Eles pensam que estão no controle, mas, ao meu modo, eu também sou parte desse jogo. Mesmo que o fim seja próximo, mesmo que a queda seja iminente, eu ainda posso fazer a última jogada. Porque, no fundo, é isso que todos querem. Eles querem ver até onde você pode chegar, querem ver até onde você vai. E, se eu tiver que cair, vou cair de pé, sabendo que joguei meu jogo até o fim. Se a Yakuza me destruir, que seja. Mas, por agora, eu sou a última jogadora, e esse jogo está longe de terminar.”
James McSill: Hina, você passou por tanta coisa até aqui. Cada passo foi uma luta para sobreviver, e, ao mesmo tempo, você se tornou uma jogadora nesse jogo implacável. Agora, olhando para onde você chegou, o que você tirou de lição dessa jornada toda? O que você diria para alguém que está começando nesse mundo sombrio, que nem sabe o que o espera?
Hina: “Eu diria a essa pessoa que o jogo não é sobre ganhar ou perder, não é sobre ser o melhor, nem o mais forte. O jogo é sobre não ser engolido por ele. Quando você começa, você pensa que está no controle, que pode fazer as coisas do seu jeito. Eu pensei que podia ser diferente, que poderia ser forte o suficiente para não cair nas armadilhas que todos caem. Mas a verdade é que, no começo, você não sabe nada. Eu fui uma novata, uma menina que entrou em um mundo que não compreendia, tentando se agarrar a algo, tentando encontrar uma forma de se tornar alguém. Mas, no fim, o que aprendi é que, mais importante que as vitórias, mais importante que os números e o poder, é o que você perde ao longo do caminho. E o que você perde, James, é algo que nunca volta. A própria alma, talvez.”
James McSill: Então, você diria que o que você perdeu foi sua essência, sua humanidade?
Hina: “Sim. Quando você começa a ser parte desse sistema, tudo o que você faz é arriscar mais de si mesmo. No começo, eu estava determinada a não perder o que havia em mim, mas a cada erro, a cada lealdade quebrada, eu vi algo se perder. Eu vi a mulher que entrou naquele clube desaparecer aos poucos. Isso é o que acontece quando você se entrega a um sistema que não é feito para você, que não está preocupado com quem você é, mas apenas com o que você pode fazer por ele. Então, chega um momento, James, em que você percebe que não há mais como voltar. Você começa a questionar quem você realmente é, o que te trouxe até aqui. Eu sabia, no fundo, que minha jornada nunca foi sobre ser vitoriosa. Foi sobre sobreviver. Mas, ao fazer isso, me perdi de mim mesma.”
James McSill: Mas, ao mesmo tempo, você sobreviveu. Você conseguiu se levantar a cada queda. O que mais você aprendeu ao longo desse processo de constante luta, de recomeços e perdas?
Hina: “A maior lição que aprendi, James, foi sobre a força. Não a força física, mas a força interior, a capacidade de continuar quando você acha que não tem mais forças. No começo, eu acreditava que tudo seria um caminho direto, que eu apenas teria que seguir as regras e fazer o que os outros esperavam de mim. Mas eu aprendi a não confiar nas expectativas. Cada vez que algo me derrubava, eu percebia que o que realmente me mantinha em pé era minha capacidade de me reinventar, de ser flexível, de me moldar ao que era necessário. Eu me tornei algo que nunca imaginei ser. Eu me tornei o que o sistema precisava que eu fosse para sobreviver. E foi isso que me fez perceber que, por mais que você se perca, você nunca deve parar de lutar para se encontrar novamente.”
James McSill: Então, mesmo em um mundo tão sombrio, onde as mentiras e as traições são constantes, você encontrou uma força em si mesma. Como você se sente agora, vendo tudo o que passou, sabendo que de onde você veio, do fundo do poço, conseguiu alcançar o controle?
Hina: “Eu vejo tudo o que fiz e, por um lado, sinto uma estranha sensação de orgulho. Orgulho de ter chegado tão longe, de ter superado os obstáculos, de ter jogado esse jogo de maneira tão implacável. Mas, ao mesmo tempo, há uma tristeza que não consigo afastar. Eu vejo quem eu era antes e vejo quem me tornei. A mulher que chegou no clube com olhos esperançosos, que acreditava que poderia ser diferente, perdeu parte de sua essência. Ela foi consumida pelo jogo, pela necessidade de ganhar, pela urgência de ser aceita. Mas, ao mesmo tempo, o que eu sou agora, é uma mulher que sobreviveu. Não só ao clube, não só à Yakuza, mas ao próprio sistema que me tentou destruir. Eu não sou mais quem eu era, mas sou alguém que, no final, conseguiu se reconstruir. Não sou mais inocente, mas tenho um tipo de sabedoria que nunca teria adquirido de outra forma.”
James McSill: Você acha que, no fundo, a mulher que você era ainda está viva? Ou foi um sacrifício necessário para sua sobrevivência?
Hina: “A mulher que eu era não morreu, James. Ela está apenas... adormecida. E talvez, uma parte de mim queira que ela morra, que ela permaneça enterrada, porque a mulher que ela era nunca teria sobrevivido ao que passei. Mas, no fundo, sei que ela ainda existe em mim. Às vezes, quando estou sozinha, quando o silêncio cai sobre mim, posso sentir a essência daquela mulher, daquela jovem que sonhava em ser algo diferente. Mas eu não sou mais aquela pessoa. Eu sou a mulher que está agora no controle, a mulher que fez escolhas difíceis, que olhou para o abismo e não vacilou. A mulher que sobreviveu.”
James McSill: Agora que você entende tudo o que aprendeu, Hina, o que você faria de diferente? Se pudesse voltar atrás, o que diria àquela jovem que entrou pela primeira vez naquele clube?
Hina: “Eu diria para ela que a vida não é sobre lutar para ser algo ou alguém. Não é sobre fazer parte de um jogo que está fora de seu controle. A vida é sobre aprender a se adaptar, a sobreviver. Se eu tivesse ouvido a mim mesma antes, teria sido mais cautelosa, teria confiado menos nas promessas e mais no meu próprio instinto. Eu diria para ela que, no fim, o que mais importa não é vencer os outros, mas se manter fiel a si mesma, e não deixar que o sistema a que você pertence defina quem você é. Não deixe o medo ou a necessidade de aceitação moldar sua identidade. Porque, quando isso acontece, você perde o que tem de mais precioso – a sua alma. Se eu tivesse feito isso, talvez a mulher que eu sou hoje não tivesse esse peso sobre os ombros. Mas, ao mesmo tempo, ela é o reflexo do que eu precisava ser para sobreviver. Ela é a minha lição.”
James McSill: Hina, você me disse que, apesar de tudo, a mulher que você era ainda está viva em algum lugar dentro de você. Mas o que você realmente acha que será o próximo passo para você? Agora que você chegou tão longe, com o poder que sempre desejou, você ainda sente que precisa continuar lutando ou que, finalmente, encontrou a paz?
Hina: "Eu tenho poder, James. Eu conquistei meu espaço, mas a verdade é que o poder, como tudo o mais, não dura para sempre. A paz... não sei se isso é possível para mim. Eu estou tão imersa no que fui obrigada a fazer para sobreviver que a ideia de 'descansar' parece quase uma fantasia distante. O que me resta, no fundo, é o vazio. Quando você alcança tanto, e ainda assim sente que há algo faltando, é um sinal de que você perdeu mais do que ganhou. Talvez o que eu realmente busque agora seja... controle, sim, mas mais sobre minha própria vida, mais sobre minha liberdade. Eu sempre fui uma jogadora, mas será que ainda quero continuar no jogo? Ou será que estou apenas indo de um movimento para o outro, sem realmente saber qual é o meu destino?"
James McSill: Então, você se encontra em um ponto de interrogação, onde o poder que você conquistou não te satisfaz, mas também não pode ser facilmente deixado de lado. Você diria que ainda há algo mais que precisa alcançar? Ou você já está começando a pensar em uma saída definitiva?
Hina: "A verdade é que, mesmo no topo, você sente uma certa nostalgia das coisas simples. Mas quando você chega até onde cheguei, a saída não é clara. Não posso mais voltar para a vida simples que tinha antes. O que seria da minha identidade se eu deixasse tudo para trás? Seria mais do que apenas uma fuga — seria um fim. Eu estou presa entre o que quero e o que devo fazer. Cada movimento que eu faço, cada decisão que tomo, sinto o peso disso. Talvez, por dentro, eu ainda tenha aquela mulher sonhadora, aquela que acreditava que poderia mudar o jogo sem perder de vista quem era. Mas essa mulher se foi. O jogo me fez quem sou hoje. E não sei se a única saída é continuar jogando ou tentar uma última jogada, um movimento que defina de uma vez por todas quem eu quero ser.”
James McSill: Então, você está considerando uma nova jogada, talvez a última jogada da sua vida. Mas o que isso significa para você? O que você pretende alcançar agora, com o poder que tem em suas mãos e o conhecimento de como tudo funciona?
Hina: "Eu não estou apenas considerando, James. Eu estou criando o próximo movimento. Há uma parte de mim que quer destruir tudo, que quer apagar as memórias, mas, ao mesmo tempo, sei que isso só me consumiria ainda mais. O que realmente me impulsiona agora é o desejo de reescrever as regras, de fazer algo com o poder que eu conquistei, algo que seja mais sobre mim do que sobre os outros. Sempre estive à mercê de um sistema, de um ciclo que me usou, me manipulou e me destruiu. Mas, agora, talvez eu tenha uma chance de mudar isso. Talvez o jogo ainda tenha uma última reviravolta, e eu seja capaz de moldá-lo ao meu favor, de reescrever minha história para que o final não seja determinado por ninguém mais. Eu não quero ser mais uma peça no tabuleiro de alguém. Eu quero ser a jogadora. Eu quero definir minhas próprias regras e, desta vez, ser mais do que uma sobrevivente. Eu quero ser a vencedora, não pelo poder que eu acumulei, mas pela liberdade de poder finalmente viver do meu jeito.”
James McSill: Então, ao final de tudo isso, o que você diria que realmente aprendeu? O que você acredita ser a lição mais importante de tudo o que você passou?
Hina: "Eu aprendi que a sobrevivência não é apenas sobre resistir aos outros, mas sobre resistir a si mesma. O maior inimigo não são as pessoas à sua volta, mas o medo que você carrega dentro de si. O medo de perder, o medo de não ser o suficiente, o medo de não controlar o jogo. Eu aprendi a lutar contra esses medos, a usá-los como combustível para continuar, mas também aprendi que, no final, a verdadeira luta é contra quem você se torna ao longo do caminho. A lição mais importante que tirei disso tudo, James, é que o poder e o controle são fugazes. O que realmente importa é o que você escolhe fazer com ele quando o tem em suas mãos. Não basta vencer — você tem que garantir que, ao final, você ainda consiga olhar para si mesma no espelho e gostar do que vê.”
James McSill: Hina, sua jornada foi marcada por dor, sacrifícios e vitórias, mas também por uma profunda reflexão sobre quem você se tornou e o que ainda pode se tornar. Como você vê o futuro agora? Você finalmente encontrou alguma forma de paz?
Hina: “Eu não sei se vou encontrar paz, James. Eu só sei que, agora, tenho a escolha. E, pela primeira vez, não estou sendo movida pelas circunstâncias, mas pelas minhas próprias decisões. O futuro não é algo que você encontra, é algo que você cria. Eu tenho poder, sim, mas mais importante do que isso, eu tenho controle sobre minha vida, algo que eu nunca tive antes. E se isso me traz paz? Não sei. Mas é o que eu vou fazer com essa liberdade que define quem eu sou agora. Se eu fracassar, será porque eu decidi não ceder mais aos jogos que me foram impostos. Se eu vencer, será porque finalmente tomei o controle de tudo. E, no fim, isso será a verdadeira vitória para mim.”
James McSill: Hina, depois de tudo o que passou, você parece estar se distanciando desse mundo que te consumiu. Mas você mencionou que está criando o próximo movimento, como se ainda houvesse algo a ser feito. O que você pretende fazer com esse poder agora? Você finalmente encontrou o que estava buscando?
Hina: "Sabe, James, quando você chega ao topo, pensa que o controle vai resolver tudo. Mas o que eu comecei a perceber é que o controle, o poder, não são os finais que você imagina. Eu sempre fui consumida pela ideia de ser a última a rir, de estar no controle de tudo. Mas agora, com tudo o que passei, eu vejo que, na verdade, eu estava apenas tentando controlar a dor, o vazio que sentia dentro de mim. O poder é uma sombra, e quanto mais você corre atrás dele, mais ele se afasta. O que eu realmente comecei a buscar, depois de tanto tempo, foi algo que não podia ser tocado ou controlado. Eu comecei a entender que a verdadeira liberdade não vem do poder. Ela vem da escolha de se libertar, de se afastar do que te aprisiona, de ser capaz de viver com o que você tem, sem precisar ser mais do que você já é."
James McSill: Então, você finalmente está buscando algo além do poder. Algo mais profundo. Como você planeja lidar com o que o futuro lhe reserva? Você ainda sente que precisa lutar, ou finalmente chegou ao ponto de poder deixar isso tudo para trás?
Hina: "Eu passei tanto tempo lutando, James, que comecei a pensar que a luta era a única coisa que me mantinha viva. Mas agora, quando olho para tudo o que fiz, vejo que, em algum momento, a luta deixou de ser uma escolha e se tornou uma necessidade. Eu vivi no modo de sobrevivência tanto tempo que comecei a esquecer o que era viver. Eu posso não ter mais o mesmo desejo de conquistar tudo, mas eu tenho algo que muitos nunca terão: a chance de tomar uma decisão sem ser forçada a isso. Eu não preciso mais provar nada para ninguém, nem mesmo para mim mesma. O poder... ele me corrompeu, me fez acreditar que eu poderia controlar tudo, mas agora eu vejo que controlar é o que me fez perder a verdadeira liberdade. Agora, talvez a maior luta que eu tenha é a luta contra mim mesma, contra a tentação de cair de novo nesse abismo.”
James McSill: Você está dizendo que o maior desafio agora é enfrentar sua própria natureza, seu próprio desejo de poder e controle. Como você lida com isso? Como se reconectar com quem você é, depois de tudo o que passou?
Hina: "O caminho para se reconectar é longo, James, e não sei se já estou lá. Mas a única coisa que eu sei é que, para viver, eu preciso deixar o passado ir. Não posso mais viver com o peso das escolhas que fiz, não posso mais olhar para trás e desejar que tivesse feito algo diferente. Eu não posso me arrepender. O arrependimento me manteria presa nesse ciclo. Então, o que eu faço? Eu sigo em frente, mesmo sem saber onde estou indo. Eu aprendi que, para sobreviver, você precisa ser flexível, não rígido. Você precisa saber quando lutar, mas também quando parar de lutar. Talvez eu ainda tenha que lutar contra os fantasmas do meu passado, mas agora, vejo que tenho a capacidade de criar um futuro que não seja ditado por eles.”
James McSill: Então, você está se libertando do peso das suas escolhas, tentando seguir um caminho sem as amarras do passado. Mas e o que você construiu? O que você aprendeu ao longo de tudo isso? Você tem alguma ideia de quem você quer ser agora, Hina?
Hina: “Eu não sei quem sou agora, James. Isso é o que mais me assusta. Eu vivi tanto tempo tentando ser algo que não sou, tentando ser alguém que o mundo queria que eu fosse. Agora, eu não tenho mais essas expectativas, nem as minhas. Eu estou aprendendo a ser mais honesta comigo mesma, a ver minhas próprias falhas e fraquezas, e a aceitá-las. O que aprendi? Aprendi que a verdadeira força não vem de se manter no controle, mas de saber quando se deixar ir, quando se permitir falhar, quando ser vulnerável. Eu não quero mais ser a mulher que luta por poder. Eu não quero mais ser a mulher que é definida pelo que ela conquista ou pelo que os outros pensam dela. Eu só quero ser Hina. E para isso, preciso aprender a viver com quem sou, sem todas as máscaras.”
James McSill: Então, você não está mais buscando ser vencedora, mas está buscando ser... você mesma. Agora, com tudo o que passou, com o que aprendeu, qual é a próxima etapa para você? O que vem depois dessa luta interna e desse processo de reconexão com quem você é de verdade?
Hina: “Eu ainda não sei, James. E, honestamente, isso é o que mais me assusta. Mas, talvez, não precise saber. O que vem depois não precisa ser uma decisão, apenas um caminho. O futuro é incerto, mas agora, o que eu sei é que eu finalmente tenho o poder de escolher quem eu quero ser. Não preciso mais me definir pelas escolhas dos outros, nem pelas expectativas de uma sociedade que me usa como peça. Agora, é sobre eu decidir o que quero para mim, sem ser movida pelo medo, sem ser motivada pela necessidade de provar alguma coisa. A verdade é que, por mais que eu tente, eu nunca vou ser quem eu fui antes. Mas talvez, no fundo, eu não queira ser aquela mulher. Talvez, eu só queira ser a mulher que eu sou agora, sem desculpas, sem arrependimentos, e sem o peso do passado.”
James McSill: Hina, ao longo desta conversa, você me deu uma visão impressionante da jornada que você percorreu. Passamos por muitos pontos de sua história – desde o início, quando entrou nesse mundo, até os momentos mais sombrios de traição, poder e controle. Mas também vimos a transformação, a luta interna que você travou para encontrar algo mais do que apenas sobrevivência. Como você resumiria tudo o que aprendeu até agora? O que essa jornada te ensinou, no fim das contas?
Hina: "James, eu diria que, no fundo, a maior lição que aprendi foi que a verdadeira vitória não é sobre conquistar o mundo ou ser a última pessoa em pé. Não é sobre ser o mais forte, nem o mais poderoso. O que realmente importa, no fim das contas, é saber quem você é, mesmo depois de tudo o que o sistema tentou fazer com você. Eu entrei nesse mundo buscando algo, talvez aceitação, talvez controle, talvez apenas uma saída do vazio que sentia dentro de mim. Mas, ao longo do caminho, percebi que, para sobreviver, eu não precisava ser quem os outros queriam que eu fosse. Eu precisei lutar contra os meus próprios medos, contra os fantasmas do passado, e isso, James, foi a parte mais difícil de tudo.”
James McSill: E a transformação, Hina? Você mencionou que a mulher que entrou naquele clube não existe mais. Ela foi substituída por quem, no final?
Hina: “Eu sei que o que sou agora não é o que eu era antes, e talvez essa transformação tenha sido o preço que paguei por sobreviver. A mulher que entrou naquele clube era uma jovem sonhadora, talvez até ingênua, que achava que poderia controlar tudo, que poderia mudar as regras do jogo. Eu passei por tanta coisa, tantas perdas, tantas traições, e isso me moldou de uma maneira que eu não esperava. Eu me tornei uma mulher que entende o jogo, que sabe como manipulá-lo a seu favor, mas ao mesmo tempo, uma mulher que carrega as cicatrizes de quem viu o preço da sobrevivência. Mas, em algum nível, essa mulher que sou agora também é resultado da minha resistência, da minha capacidade de me reinventar. Ela é a prova de que, mesmo no caos, você pode escolher quem quer ser.”
James McSill: E o que vem agora? O que o futuro tem para Hina, depois de tantas batalhas internas e externas? Você finalmente encontrou a paz, ou ainda está buscando algo mais?
Hina: “Eu não tenho as respostas, James. E, honestamente, isso não me assusta mais. Eu sempre achei que o futuro era algo a ser conquistado, algo que eu precisava controlar. Mas agora, eu vejo que ele é uma tela em branco. O que importa, talvez, seja a liberdade de decidir o que colocar nela. Eu não sou mais a mulher que se define pelo que os outros querem que ela seja. Eu aprendi que, embora não se possa controlar tudo, há um poder em escolher sua própria direção, em decidir o que se vai fazer com o que ficou. O futuro não será fácil, mas agora eu sei que a maior batalha que tenho é contra a versão de mim mesma que não quer se libertar. Talvez, a luta pela paz seja a mais difícil, porque, quando você está acostumado a viver para sobreviver, é difícil aprender a viver para viver. Mas, por agora, é isso que eu quero. Viver. Com minhas escolhas, com minha liberdade, e, finalmente, com a verdade que encontrei em mim mesma.”
James McSill: Hina, sua jornada é uma história de sobrevivência, mas também de transformação. A luta por poder, pela lealdade, pela sobrevivência, tudo isso foi parte de quem você era, mas, ao final, a verdadeira luta foi contra o próprio sistema, contra o controle que ele tinha sobre você. Você agora vê o que é a verdadeira liberdade, a liberdade de ser quem você realmente é. E, talvez, o maior presente de tudo isso seja a capacidade de escolher o que fazer com o resto de sua vida. Essa é uma verdadeira vitória.
Hina: "Sim, talvez seja isso, James. A vitória não está no que você conquista, mas no que você decide deixar para trás e no que você escolhe manter. Eu não sei o que o futuro me reserva, mas sei que, de agora em diante, ele será escrito por mim. E, dessa vez, eu não vou ser uma peça no jogo de ninguém. Eu sou a jogadora. E, com isso, finalmente, talvez eu possa começar a encontrar a paz que sempre procurei."
James McSill: Hina, obrigado por compartilhar sua história tão sincera, profunda e transformadora conosco. Seu relato é uma verdadeira lição sobre sobrevivência, força e, acima de tudo, sobre a capacidade de se reinventar. Sua jornada não é só uma história de sucesso e perdas, mas uma história de luta constante pela liberdade – e, ao fim, pela escolha de ser quem realmente se é.
Hina: "Obrigada a você, James. Por me dar a chance de finalmente contar essa história. Porque, no fundo, contar a nossa própria história é a última maneira de tomar controle, de ser quem realmente somos, mesmo quando o mundo tenta nos definir. E, com isso, eu posso começar a viver de verdade."
Hina: "James, antes de você escrever essa história e publicá-la, há algo importante que preciso dizer. Por questões de segurança, você pode escrever o que quiser, mas, por favor, evite a todo custo me identificar. A minha vida, como ela é hoje, está construída sobre uma fachada de anonimato, e a comunidade imigrante brasileira que me conhece, não sabe a verdade. Eles me veem de uma maneira completamente diferente, e é assim que precisa ser. Não me leve a mal, mas essa é uma questão de segurança para mim. Tudo o que você escreve, por favor, não deixe rastros que possam me identificar."
James McSill: "Hina, entendo completamente. Sua segurança vem em primeiro lugar. Farei o possível para garantir que sua identidade não seja revelada, e que o conteúdo permaneça em anonimato. Vou escrever sua história da forma mais honesta possível, mas com muito cuidado, respeitando seus desejos."
Hina: "Agradeço, James. Como já disse, ninguém que me conhece sabe a verdade. Para muitos, a história que contei é apenas uma ficção, algo distante da minha realidade. E é assim que deve ser. Isso é o melhor para todos. Quando você tiver o conto pronto e antes de publicá-lo na antologia, por favor, me envie para que eu possa dar uma última olhada. Apenas para garantir que o que você escreveu está de acordo com o que concordamos."
James McSill: "Claro, Hina. Assim que o conto estiver pronto, eu te envio antes de qualquer publicação. Você terá total controle sobre o que vai ser divulgado. Não vou colocar em risco a sua segurança de forma alguma. A história será sua, mas sob suas condições."
Hina: "Eu confio em você, James. E obrigado por me dar a chance de contar essa história de uma forma que, ao menos para aqueles que leem, pareça algo distante. Algo fictício, até. Mas, no fundo, a verdade está nas entrelinhas, e eu sei que quem ler entre as linhas entenderá."
James McSill: "Sem dúvida, Hina. Você tem minha palavra. Agora, vamos garantir que a sua história, apesar de tudo o que passou, seja contada da forma que você deseja. Com todo o respeito e o cuidado que ela merece."
Hina: "Muito obrigada, James. Espero que, um dia, as pessoas entendam não apenas a força, mas as cicatrizes que carregamos. E como, mesmo com essas cicatrizes, ainda podemos decidir quem ser."